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Buscando...?

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

resoluções

Sejamos todos bons discípulos, diligentes e disciplinados.
Honremos o Buddha, o Dhamma e o Sangha perante os nossos. Que nosso refúgio seja nossa vigilância e atenção conforme ensinado pelo Buddha. Que nos esforcemos para viver o Dhamma do Buddha a cada respiração. Que através da prática conheçamos a serenidade em meio à vida. Que possamos reagir de forma saudável e conducente à paz tanto às alegrias quanto às tristezas que virão. Que nos façamos aptos ao deleite que vem do conhecer o surgir e cessar dos fenômenos. Que não temamos a impermanência. Que possamos aceitar, sabiamente, a natureza insatisfatória da existência. Que possamos viver plenamente a realidade em seu completo vazio.
Que busquemos a paz que está além de qualquer início ou fim.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

diálogo impertinente

Qualquer semelhança com a realidade é devido ao fato de que o diálogo abaixo, em sua essência, aconteceu.
Recentemente.

- ...uns amigos do Mahayana questionam sempre...
- Sobre?
- Ah, eles tem uma postura crítica quanto a nós, theravadas... Dizem que somos preocupados apenas conosco...
- Como assim?
- Falam que buscamos apenas a nossa iluminação. Eles buscam a iluminação de todos...
- Hmm... E...?
- É chato isso... Fica uma sensação de "eles são OS BUDDHISTAS"!
- Bobagem... Esta questão toda tem um fundo histórico meio complexo que muitos não tem nem noção do que se trata. Só repetem o que ouvem...
- Pois é... Eles afirmam que tem uma mente ampla!
- Ah...
Pergunte o que eles fazem para que todos se iluminem... Eu acho que não é nada muito além do que fazemos.
-É...
- Nós fazemos o possível para que as pessoas tenham contato com o Buddhadhamma, sentamos e meditamos, nos esforçamos para sermos boas referências através da prática dos preceitos... Alguns de nós, e deles, se envolvem com trabalhos voluntários... Eu fico buscando uma diferença entre nós e não acho...
- É a questão da mente ampla que eles falam... A tal da bodhiccita.
- "O desejo que todos atinjam a iluminação"...
- É...
- E daí?
- Daí o que?
- Você deseja que todos atinjam a iluminação?
- Claro, ué?!
- Se este desejo é sinal de 'mente ampla', quem além de você pode dizer se a sua mente é ampla ou não?
- ...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

mensagem cifrada

No meu trabalho houve um concurso de textos mensagem-de-fim-de-ano.
Enviei o meu.
Não ganhei mas gostei do que escrevi. Até que não ficou ruim visto que foi composto dentro das regras de formatação exigidas. Achei uma razoável tentativa de falar do dhamma sem usar a palavra dhamma!

Se prendemos a respiração por alguns momentos, ocorre um desconforto. Tanto maior quanto for o tempo que tentarmos. Tentar parar os pensamentos também é frustrante. Tanto maior quanto a determinação que aplicarmos para fazê-lo.
Quando chega o fim de um ano é o início de outro. E celebramos! Festejamos! A mudança, o novo. Mas será que é realmente da mudança que gostamos? Ou será que a nossa verdadeira inspiração é a esperança de que aquilo que nos agrada continue da forma que está e que só mude o que queiramos? É como tentar segurar a respiração ou parar o pensamento.
A essência do existir é a transformação. Sem ela não há dia e noite, inspirar e expirar, sono e balada... Todos sabemos. Porém, parece que tentamos o tempo todo deter o movimento, acreditamos ter o poder de fazer com que, sempre, tudo seja da forma que queremos. E isso é tão frustrante quanto maior for o nosso empenho.
Quer dizer então que deveríamos desistir de tudo, sentar na calçada e ficar vendo a vida passar? Não planejar? Não almejar...? Não! A passividade inerte não é a proposta! Na verdade, uma coisa bem pouca, uma simples mudança de foco é, tenho a impressão, do que precisamos.
Não podermos controlar tudo não significa não podermos ser felizes! E, no final das contas, todos os nossos atos, desde o mero respirar, são com a motivação de sermos felizes. Talvez devêssemos valorizar mais o aprendizado e esquecer um pouco o desejo, o anseio, o domínio. O que precisamos é tentar abrir mão da aflição pelo controle, ou da ilusão do controle absoluto, e aprimorarmos a capacidade de perceber e aprender com a natureza, com a realidade, com a mudança. Aprender com as coisas conforme elas são ao invés da luta vã para fazer delas o que nunca serão. Abandonemos a ilusão de tornar a vida nossa prisioneira.
Neste ano que se inicia, poderíamos, antes de enumerar nossos desejos, pensar no como e no que precisamos aprender para realmente apreciar e, se possível, aproveitar todas as mudanças que ocorrerão, queiramos ou não. Talvez devêssemos almejar estar plenamente abertos para as possibilidades, atentos para as tendências e tranquilos para as transformações. Não tentemos aprisionar o novo ano nas gaiolas dos nossos desejos míopes. Vamos contemplar o surgir do ano novo. E nascermos junto com ele. Sensíveis para as oportunidades que, invariavelmente, surgem. Enxergar-nos como parte deste fluir incessante que é a vida. Mutável, impermanente, impossível de deter. Nova a cada segundo. No sentido mais profundo: simples mudança.
Um feliz ano novo para nós. Façamos-nos aptos a vivenciar a mudança. A cada momento!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

caminhando e aprendendo (ou "Assim Falou Rocky Balboa")

no prazer que substitui o sofrimento não há paz
não há paz na alegria que sufoca a dor
nem na calma que sucede a tempestade há a paz

não há paz no querer
não há paz no anseio
pelo que quer que seja
quando há desejo
não há paz

no tempo que tudo apaga não há paz
no esquecimento não há
no acúmulo não há paz
nem há na posse

na atenção esperançosa não há paz
na vigilância que almeja não há paz
não há paz que surgindo de algo mais, seja verdadeira

***

Só a prática e o esforço constantes habilitam a mente a perceber as sutis armadilhas da ilusão e do apego. Tem que sentar e respirar atentamente sabe-se lá quantas vezes e quantas horas para que nos enfrentemos em combate. E quantos rounds serão necessários? Quantas quedas, quantas contagens serão abertas não importa, desde que nos levantemos a cada vez conhecendo melhor o único oponente que vale a vitória.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Espelho, espelho meu...

Está tão claro quanto mais negro fica o horizonte que compartilhar um mundo que estimula, fomenta, cultiva, explora e se sustenta sobre desejos sensoriais é manter uma fonte sempre renovável de desgraças. Das mais variadas dimensões e proporções.
Mas então, por que nós nos ressentimos tanto de mexer com os nossos desejos? Por que sempre que o Buddha fala que o desejo (ta) precisa ser eliminado nós damos uma mexida no assento, coçamos a cabeça, olhamos para o lado...?
***
Chega a ser doloroso observar pessoas que acreditam que podem mudar outras pessoas. Podem passar uma vida nesta ilusão.
Criam uma imagem baseada nos próprios valores, ou pontos de vista, ou na própria auto imagem, ou até naquilo que gostariam de ser mas não conseguem, e passam a desejar que um outro torne-se isso! E eis que o tormento se desenrola, às vezes, ou quase sempre, maior para quem deseja!
É tão impossível mudar o outro quanto necessário, apesar de difícil, mudar a nós mesmos. Só nos resta esperar que um bom exemplo surta efeito...

***
Tão doloroso quanto, é observar aqueles que se dizem 'donos do seu destino'. Que afirmam, ou acreditam, que podem tudo! Vencer, vencer, vencer... Igual ao flamengo! Aí, é constrangedor observar suas expressões diante das vicissitudes e descontrole da vida...
A única forma de nos tornarmos donos do nosso destino é pela sábia desistência de possuir um destino.

sábado, 5 de dezembro de 2009

hoje eu acho engraçado II

Eu não sei nadar.
Mas sempre fui meio abusado.
Certa vez, quando moleque, estava numa praia de mar agitado, ondas e areia revolta. Fui indo, indo, indo até que a água bateu no pescoço. Aí vi que precisava voltar.
Mas a coisa não seria fácil.
Naquela altura, as puxadas das ondas eram muito fortes, as ondas muito frequentes, na areia surgiam muitos buracos. Era por o pé e aquilo logo afundava e água pelo nariz, boca e aquele desespero! Se tentasse dar algumas braçadas iria piorar por que as ondas me puxariam mais rápido. Tinha que seguir pisando aquele chão movediço. Era uma sensação terrível aquela de buscar firmeza, sustentação e sentir o chão se desfazendo sob os pés! Era um "ah! agora vai!... não foi!!!!" contínuo! O instinto desesperado pela sobrevivência. Eu achei que iria morrer, mesmo.
Sinceramente, não sei quanto durou... Segundos, minutos... Sei que consegui sair da água ofegante, com a barriga cheia, nariz e olhos congestionados.
Mas é uma sensação que ilustra bem a percepção que se tem do mundo quando se olha bem de perto com alguma atenção e vigilância (satisanpajanna). A mente procura assentar aquela identidade concebida do eu em alguma base, que sempre se desfaz sob ela. Um pensamento, uma sensação, uma idéia... Vistos bem de perto se desfazem e o EU pisa com ansiedade à frente, em mais um passo, na sede de existir, numa caminhada sem fim e com água sempre no pescoço.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

upādāna

De vez e quando alguém pergunta se não haveria um 'apego bom'. Um apego do qual não precisaríamos nos livrar.
Isso vem do nosso mal entendimento do que significa a palavra pali upādāna causado pela recorrente dificuldade de tradução. Upādāna abrange, segundo Ajahn Buddhadasa em "A causa do Sofrimento na Perspectiva Buddhista" (pág. 94), os significados de: apegar-se, agarrar e segurar. Ele, inclusive, aconselha-nos a combinarmos mentalmente estes três significados e passarmos a usar a palavra pali com o entendimento resultante ao invés da tradução apego.
Nossa mente concebe entidades que encapsulam os fenômenos. Não concebemos as coisas como processos dependentes, embora possamos, racionalmente, compreender isso. Não pensamos no nosso computador como um conjunto de componentes pelos quais passa um fluxo de energia. Não vivenciamos a idéia de que a cada vez que usamos o computador, estamos consumindo estes mesmos componentes, cada uso é uma gota de destruição. Da mesma forma que cada respiração é um passo em direção à dissolução deste composto corpo e mente. Não concebendo a realidade da forma adequada, povoamos o existir de entidades que permanecem, resistem e subsistem aos fenômenos e compomos a dicotomia possuidores/possuídos. Ilusões possuindo ilusões.
Isto me parece ser, em essência, upādāna. E não há como qualquer felicidade real surgir disso.
Há um trecho do Ariyapariyesana Sutta (A Nobre Busca) que acho que, se for decorado, repetido e tiver o seu entendimento frequentemente burilado e aprofundado na mente, pode conduzir a uma compreensão bastante poderosa de upādāna. É o seguinte:

“Bhikkhus, existem esses dois tipos de busca: a busca nobre e a busca ignóbil. E o que é a busca ignóbil? Nesse caso, alguém que, estando ele mesmo sujeito ao nascimento, busca aquilo que também está sujeito ao nascimento; estando ele mesmo sujeito ao envelhecimento, busca aquilo que também está sujeito ao envelhecimento; estando ele mesmo sujeito à enfermidade, busca aquilo que também está sujeito à enfermidade; estando ele mesmo sujeito à morte, busca aquilo que também está sujeito à morte; estando ele mesmo sujeito à tristeza, busca aquilo que também está sujeito à tristeza; estando ele mesmo sujeito às contaminações, busca aquilo que também está sujeito às contaminações."

Fazer daquelas entidades concebidas, as bases e fontes da nossa felicidade, não pode dar certo...


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

nibbida Em Gotas Homeopáticas

Como somos sujeitos a condições!
Nosso humor é tão debilmente dependente!
O exercício constante da atenção (sati) nos habilita a pegar o EU no pulo!
Naquele contínuo de um humor e de repente: ploft! Algo surge e o EU muda!
A atenção, se estiver presente aí, vê bastante claramente a debilidade daquela noção de um EU existente, comandante, chefe de corpo e mente! Porque não escolhemos, então, "Agora eu ficarei contente! Agora triste! Agora mais ou menos! Agora Smurf!"
A cada vez que conseguimos flagrar a debilidade do ego, é como se tomássemos uma gotinha de desencanto.
E podemos rir!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

hoje eu acho engraçado...

Ouvir este áudio trouxe a lembrança da história que conto a seguir.
Foi a alguns anos atrás.
Convidado para uma comemoração (não lembro bem do quê) em um sítio ou chácara aqui na minha cidade. Na região são muito comuns estes imóveis usados para fins de semana, festas e tal.
O local ficava bem longe, lá no fim do nada de uma cidade que tem um grande quase nada em volta de um centro bem pequenininho.
Fomos lá. Eu, mulher e filhinho bebê. E a concunhada que sabia o caminho.
Buracos e lama, mato e boi, mais buraco, mais lama, passarinho mato e boi e chegamos.
Aquela gentarada animada. Familiares, amigos, conhecidos e conhecidos dos conhecidos. Música. Comida. Bebida. Jogos e diversões. O local tinha uma infraestrutura e tanto! Uma maravilha. Para quem gosta deste tipo de maravilha.
E eu lá, no meio de toda aquela alegria e diversão. Ansioso pela hora do "obrigado por ter vindo, até a próxima, tchau!"
Até que eu aguentei por um bom tempo daquela vez.
Mas consegui arrumar uma encrenca e, para mostrar pra eles como eu era um cara marrento, decidir ir embora! (como se todos que me conheciam esperassem outra coisa!)
Quer ir? Vai, ué! Mas deixa o carro que aqui parece que só tem dois horários de ônibus: um em que ele vem e outro em que ele vai. Com criança pequena não dá para ficar dependendo disso e nem vou encher o saco de ninguém por carona...!
Ah! É?!
É.
Bom, e agora? Encrenca arrumada e palavra dita, o que que o cavaleiro da triste figura podia fazer? Um camarada assim, de opinião, carioca e tal...
Olhei pro céu: nublado do jeito que eu gosto! Um ventinho fresco...
Então, tá! Fui!
Quando pus o pé na estrada, do lado de fora da porteira...
Antes disso eu havia considerado a idéia de esperar pelo ônibus, mas o risco de ficar ali até a hora de ver o pessoal passando, indo embora, foi uma hipótese que não me agradou.
Pondo os pés na estrada (e na lama), uma estrada e tanto, respirei fundo e uma sensação extremamente legal começou a surgir.
Não era o chutão no balde, nem sair, era uma coisa boa de deixar algo para trás, de abandonar uma situação, para mim desagradável, com tudo o que tinha nela. Sem levar nada. Um gozar da liberdade de ter pés. Um adios amigos maravilhoso!
Fui andando e andando. Estufando o peito. Ainda conseguia murchar a barriga mas já não havia muitos cabelos ao vento. E deixando tudo: a encrenca, a chatice, a raiva, até a vontade de ir embora. Era só o que eu queria, andar e desfrutar daquele momento de soltura de tudo. Eu e a estrada. E que todos fossem felizes.
Mas que não me chamassem para a festa.
Já envolvido com o budismo, foi de imediato que romantizei o momento...
'Deve ser esta a sensação de deixar a vida laica! A renúncia! Deixar a opressão do mundo!'
E seguia eu viajando.
E tempo e espaço para viajar não me faltaria. A solidão ampla e vasta, vasta e vasta. Mais ou menos meia hora de carro. A pé foram horas inteiras. Sem ter me preocupado em aprender o caminho, duas vezes fiquei meio preocupado com escolhas que tive que fazer. Mas não me perdi.
O que mais me marcou da experiência, além do que veio mais pra frente, foi o completo sossego de toda a aporrinhação que eu sentia. Tendo tomado atitude tão intempestiva, quando eu pus o pé na lama, pronto! Arrefeceu-se completamente o mal-estar, surgiu uma surpreendente alegria. E assim foi, lentamente, tranquilo e calmo, que cheguei no portão de casa.
E a vida voltou ao normal.
Até mais ou menos uns dez dias depois.
Uma dor tremenda me travou a perna esquerda, da junção da coxa com o quadril até a lateral do pé, perto do dedinho!
Putz, como doía aquilo!
Quase precisei de uma cadeira de rodas para ir ao ortopedista!
Diagnóstico: inflamação do nervo ciático. Fruto da combinação de um sedentarismo pétreo com um esforço intenso e repentino.
Além de pílulas, houve uma sequência de injeções tão doídas quanto a dor a ser curada. A primeira que tomei foi no glúteo direito e saí da farmácia mancando das duas pernas! Coisa antológica!
Mas como tudo na vida, passou. Não sem deixar consequências. Como tudo na vida.
O nervo nunca mais foi o mesmo, como eu também não. Mas enquanto ele me permitir o lótus completo, não fico tão triste.
Tenho a impressão de que meu índice de APM (asnidades por minuto) tem diminuído.
Outras festas vieram.
De algumas eu até gostei.
E em todas eu fiquei até o fim!
A dor ensina.
O prazer ensina.
Mas é a percepção e a aceitação da coexistência inevitável dos dois o que ensina mais.
Eu acho.

sábado, 7 de novembro de 2009

Adinavakatha

Dia desses eu escrevi: "uma importante causa das nossas tristezas pode ser não investigarmos apropriadamente nossas alegrias".
Ou mais ou menos isso.

Achei, então, que a frase passou bem um meu entendimento do Dhamma.

Hoje estava lendo o texto Meditation, de Ajahn Chah, (estou pensando seriamente em imprimir uma foto desse velhinho para por no meu altar...!) quando lá no final descobri que existe até uma expressão em pali para aquilo que eu tentei dizer!

Adinavakatha, nas palavras de Ajahn Chah, conforme minha leitura, é o refletir na imperfeição e limitação do mundo condicionado. Significa refletir sobre a felicidade ao invés de aceitá-la pelo seu valor aparente. (...) Quando a felicidade surgir, contemple-a bem até que suas desvantagens se tornem claras.

É claro, recomendo fortemente a leitura do texto, bem como de qualquer outro do Ajahn.

Não posso negar a alegria que senti ao ler estas palavras!!

:D

domingo, 1 de novembro de 2009

Ignorância Cultural

Hoje em dia é comum as religiões focarem bastante em aspectos culturais. Há bandas, grupos de dança, teatro, oficinas artísticas, viagens, passeios, enfim, atividades para todos os gostos a apetites.
Como quase tudo, há o lado bom.
Impregnar a vida com princípios espirituais com os quais nos identificamos é muito bom.
Eu acho.
Quanto mais fizermos com sentido espiritual, melhor. Até por que isto ajuda a corrigir o equívoco de que existam a 'vida' e a 'religião'.
Mas me parece que há o risco de que se fique também só no lado 'vida'. E aí, como com quase tudo, a ignorância prevalece.
O Caminho transforma-se numa grande festa como qualquer outra. Uma jornada de alegria e celebração, consumo e esgotamento, sede e ganância, competição e vaidade e mais um monte de substantivos.
E a religião seca desprovida de substância.
Resta a brincadeira superficial e imatura que conquista o volúvel sofredor que existe em nós.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Acordar

Acompanho este ótimo blog, como podem ver aí do lado. Esta postagem recente que surge no link me chamou a atenção. Principalmente no final quando a pessoa fala que: "Assim há um grande desinteresse pelo mundo e por outro a dificuldade de se vivenciar a atenção plena". Me lembrou de que aqui, neste meu blog, de certa forma eu tentei tocar neste assunto.
Não é possível negar que uma certa angústia surge em algum momento, para algumas pessoas. Mas esta angústia deveria servir para fomentar a prática espiritual, especialmente a da atenção. É através da atenção que a realização muito maior, a da convicção, deverá surgir. Deverá haver a inversão do motivo para a tristeza. Triste é uma vez surgido, ter-se que desaparecer. Uma vez obtido, ter-se que perder, uma vez feliz ter-se que entristecer. Sem alternativa.
Triste é a ilusão.
Atroz é avijja.
Pode ser que uma importante causa de nossas tristezas seja o fato de não investigarmos adequadamente nossas alegrias.
O fato de desencantar-se com o mundo, não deve ser, de forma alguma, um fator que leve à prostração, inação e torpor. Uma grande felicidade é o que deverá brotar de sabermos, finalmente, por que, afinal, não há felicidade no mundo!
E aí a vida continua. Porque embora possamos saber, há os que não sabem. Se um dia eles quiserem saber, precisaremos estar bem dispostos!

simples

O Buddha diz que o todo pode ser encontrado aqui neste corpo. O todo é o cosmo. Nossa experiência do mundo é o todo. E é tudo de que precisamos.
Um sentido profundo desta afirmação é a irrelevância de conceitos, idéias, crenças para alcançarmos a meta. Nos basta observar ardente e atentamente o todo de que dispomos.
Mesmo palavras que com o tempo foram mitificadas (e mistificadas) tais como nibbana e suñña, eram de uso corriqueiro no tempo do Buddha. Assim ele ensinava. Com o dialeto popular de sua época e com palavras simples. O uso que fazia de símiles, parábolas é fabuloso. O fascínio pelos símiles do Buddha é uma coisa que só cresce a medida que a experiência na prática do Seu ensinamento se aprofunda.
Do aqui e do agora para a transcendência.
O Buddha começa de uma constatação: a onipresença de dukkha. E, a partir disso, não elabora teorias, não cria dogmas, não especula. Nos aconselha meramente a fazer como ele próprio fez: cultivar a mente, nos tornar-mos atentos e conscientes com base na nossa vida diária, motivações, sentimentos, posturas. Nos ensina a afinarmos esta atenção até o mais elevado grau com base na mera respiração (e isto é a meditação como foi ensinada pelo Buddha!).
No início, o buddhismo me parecia coisa de outro mundo! Algo realmente diferente e fascinante. "A solução para o meu problema só podia ser assim mesmo"... "Era disso que eu precisava para cair fora dessa realidade decadente e opressora".
Hoje, fui descobrindo pelo tempo, nada mais do que a mera realidade é o que me é suficiente.
Nada mais fantástico que aprender a olhar.
Simplesmente.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cobras

O Buddha diz que as sensações são como cobras.
As sensações oriundas do atender aos nossos desejos são como cobras.
Nós sabemos que cobras não são coisas com as quais se brinca. É preciso ter cuidado ao lidar com elas! Quanto a isso não há problema. Mas dizer que o meu bolo de chocolate é uma cobra!? Meu carro novo!? Meu tocador de MP(sei lá em que número está)!?
O "amor" da minha vida é uma cobra!!?
Isso é difícil de engolir!!!
Qual é o problema com as cobras, afinal? Elas são o que são. Fazem o que as cobras fazem. Nós aceitamos isso e não queremos que elas sejam outra coisa.
Mas parece que queremos que as sensações sejam algo que elas não são.
Ficar triste, deprimido, revoltado ou cegar-se não são as reações adequadas.
Precisamos é nos questionar se é possível ou não viver com cobras.

domingo, 11 de outubro de 2009

Superfície

Estávamos em um grupo de mais ou menos sete pessoas. Caminhávamos de volta do restaurante para o trabalho. Num momento, em função do vai e vem dos bate-papos, um amigo me pergunta: "Você é evangélico?" E eu: "Não." "Católico?" "Não." "Você não é nada?" "Não." "O que você é, então?!" "Eu sou buddhista." "Ah, já ouvi falar... E no que você acredita?" "Eu acredito numa disciplina de vida que conduz ao fim do sofrimento..." "Acredita em Deus?" "Não." "...numa força, energia...?" "Não." "Ué! Mas como assim!? Quem criou as coisas? No que você acredita!?" Iniciei a explicação dizendo 'calma que vou chegar lá...' A partir daquele momento, uma coisa significativa aconteceu: começamos a afundar! Estávamos até então num grupo que ria, brincava, dava risada, ali, boiando na superfície. Mas então, daquele momento em diante, eu e o outro começamos a afundar. E fomos ignorados! Nossos companheiros começaram a se afastar, caminhar na frente, em silêncio e dali a pouco eu os via lá do fundo, brincando de novo!
Aquilo foi para mim uma imagem bem colorida do quanto estamos superficializados hoje. O quanto valorizamos tudo o que seja rápido, simples, prático, imediato em resultado e prazer. Tenho a impressão de que há mesmo um medo das profundezas. Parece que sabemos o quão poluída ela se encontra. Há uma determinação reinante de ficar na superfície a todo custo. Levados pelas marés, sob o calor do sol. Qualquer sombra é rejeitada. Qualquer nuvenzinha é amaldiçoada!
Mesmo nas religiões isso é uma clara tendência. Já vi gente estufar o peito e louvar a própria religião por que a prática dela não se faz 'isolando-se do mundo para meditar'... Queremos que o espiritual mostre serviço!!!
Terminado o nosso rápido mergulho, voltamos sorridentes e fomos aceitos de novo na brincadeira! Só faltou alguém perguntar: "O que aconteceu!? Vocês sumiram!!"

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Taṇhā 2

Pelo pouco que eu conheço da vida daquele meu amigo, eu sei que ele passou por momentos em que a necessidade de sobrevivência o impedia de pensar na vida.
É assim com todos nós.
Ou uma boa parte.
Como o 'espelho de sabedoria' do buddhismo pode ajudar numa hora dessas?
A honestidade na contemplação de si mesmo aliada à constatação da condicionalidade de todas as coisas, ao mesmo tempo em que nos lembra do grau de responsabilidade que temos em relação àquilo que vivemos agora, nos alerta para a infalibilidade das consequências daquilo que intencionamos e realizamos no mesmo presente.
Não sobra (muito) espaço para lamentações nem negligência.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Taṇhā

Um colega meu fez cirurgia bariátrica. Estes dias estava mal. Devido ao período de transição da dieta, nada parava em seu estômago. Teve que apelar para um potinho de papinha industrializada e uns goles de bebida isotônica! Embora sem sentir qualquer sabor obteve mais uma pequena vitória na sua desgastante jornada rumo a uma melhor qualidade de vida. Conversando comigo ele disse que 'um filme passava pela cabeça': em vista de tudo pelo está a viver, como teria sido melhor não ter ganho tanto peso! Quão mais fácil teria sido uma disciplina alimentar preventiva! Tive que concordar com ele em parte mas lhe disse também que a vida muitas vezes parece não nos permitir perspectiva. Há fases em que somos de tal forma engolidos, temos tantas coisas 'mais importantes' com as quais nos preocupar que a visão de longo prazo simplesmente parece não constar no cardápio! A única coisa que importa são os descansos imediatos que possamos obter para aquele momento; os pequenos prazeres que possamos experienciar e que nos salvam da realidade indigesta que nos devora. Não nos preocupamos com o preço, qualidade ou quantas calorias tem!
Mantemo-nos facilmente no engôdo. Há servido a nossa disposição um variado e sempre renovado banquete de irresistíveis e reconfortantes delícias. Os sentidos nos guiando num degustar incessante e míope. Deleite e fuga simultâneos. Enquanto temos a ilusória impressão de que conseguimos algum alívio para a nossa massa de dissabores, acumulamos mais peso com o qual teremos que lidar de forma exaustiva e desastrosamente sofrida no futuro.
Aquela perspectiva que precisamos ter pode surgir com o espelho da sabedoria que o buddhismo nos oferece.
Mas precisamos ficar totalmente nus diante dele compreendendo o que, quem e como somos e estamos.

domingo, 20 de setembro de 2009

Querer a Paz

O interesse pela paz pode começar na constatação do turbilhão mental. Sentar, fechar os olhos, relaxar num local silencioso e isolado, longe de estímulos sensoriais e observar o tumulto que é a mente em sua busca insaciável por ter o que fazer pode ser uma experiência bastante significativa. Infelizmente, a maior parte de nós não lhe dá o devido valor. O que fica desta experiência é, mais uma vez, a insatisfação do "Droga! Eu não consigo meditar!!" Um engano absoluto! Este primeiro contato é justamente o que precisamos para reconhecer que algo deve ser feito! Pois este é o estado natural do nosso mundo. Só não sabíamos disso! Este frenesi impaciente, cansativo, desalentador, fútil e sem propósito é o nosso amado samsara!
Se esta foi a experiência, não devemos deixá-la passar nem interpretá-la pela nossa vista embaçada. Levemos a visão do tumulto interno para onde formos depois de abrirmos os olhos e levantarmos para nossa vida ordinária. Talvez, um leve desencanto possa surgir... Mas pelo que descobrimos e não por aquilo que nos permitiu descobrir.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sabbe Sankhara Dukkha

Sabbe sankhara dukkha.
É o que o Buddha diz ser uma das características do existir.
Pode ser traduzido por "Todos os fenômenos compostos são sofrimento". Ou insatisfatórios no lugar de sofrimento visto que esta última não é a melhor tradução. De qualquer forma, nenhuma fica muito distante de sofrimento, ele acaba incluído de um jeito ou de outro.
De vez em quando eu encontro falas que parecem tentar amenizar a afirmação do Buddha. Tentam dar uma aliviada, por assim dizer. Não sei com qual propósito, só sei que não concordo com qualquer que seja.
Se o Buddha começou o seu ensinamento justamente por aí e afirmava que tudo o que ensinava era sobre dukkha e o fim de dukkha, o que justifica tentar passar por cima disso? Há todo tipo de argumento: que a tradução seria essa ou aquela, que a vida não é só dukkha, que isso e que aquilo... Tudo para tornar, me parece, o Dhamma mais "aceitável", coisa que o Dhamma não precisa! O Dhamma é o que é! Quem, por algum motivo não for capaz de compreender a afirmação do Buddha, que busque a compreensão, se desejar assim. Não devemos é tentar adaptar os ensinamentos à nossa cegueira.
Falam que o problema não está no mundo, mas na nossa visão do mundo, o que está absolutamente correto! Mas, ora bolas, o que cargas d'água é o mundo se não a visão que temos dele??? Ao abandonar, ou corrigir como alguns dizem, a nossa forma de experienciar o mundo, não estaremos abandonando o mundo em si?? Falar que "Não, a vida não é só sofrimento! Sofrimento é o 'eu' e o 'meu'... Temos que abandonar é a ilusão de um ego, o apego..." Ou seja, abandonar o que é, justamente, a única maneira que conhecemos de existir!! Ou alguém, naturalmente, antes de conhecer o Buddhadhamma já havia pensado em existir sem, ou experimentou a ausência de, um senso de EU ou MEU? (Faço essa pergunta partindo do princípio de que quem vá responder conheça ao menos um pouco do significado da palavra pali upadana que é a geralmente traduzida por apego).
Por isso eu acho que toda esta tentativa é uma retórica inútil que, ou coopera para o mal entendimento e até a decadência do Buddhadhamma, ou para dar uma volta nos ouvintes/leitores e deixá-los no mesmo lugar que o Buddha de forma tão clara, direta, obviamente sábia e sem concessões deixa ao dizer: "Sabbe sankhara dukkha".

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Nascimentos e (re) Nascimentos

Uma das tarefas propostas no mais recente curso on-line do Centro de Estudos Buddhistas Nalanda foi a criação de uma estória que exemplificasse os nascimentos que experimentamos pelos vários reinos da existência em acordo com a concepção buddhista da realidade.
O que segue é uma das estórias apresentadas.

O DEVA está de folga. Que delícia não ter correria, compromisso, horário e ter uma caixa da temporada de uma de suas séries preferidas para assistir!
Deitado na cama, DVD ligado, após alguns momentos de deleite o ANIMAL dorme.
Quando acorda, terminou já o quarto episódio do disco.
A Deva superior chega do trabalho. Tá na hora da minha novela, ela diz. Vai assistir na sala, grunhe o ANIMAL. Você sabe que a TV da sala não pega direito, ela diz. Mas essa aqui é única que suporta o DVD, ele resmunga. Problema seu, você teve o dia inteiro para assistir esta porcaria. Aposto que dormiu que nem um porco!
Ô INFERNO de vida, ele pensa enquanto cheio de raiva levanta da cama.
Preciso comprar uma TV nova, pensa o PETA. Entra sofregamente na internet procurando preços de TV’s. O ASURA lembra-se, então, que outro dia viu, pela janela, a TV de plasma do vizinho e pensa: como é que um Zé Mané desses comprou aquela TV? Deve estar devendo até a alma!! Como é que pode ele ter uma TV, uma casa e um carro daqueles e eu não consigo nem uma bicicleta sem fazer dívida!?
Mas, apesar de tudo, o besta é um ser HUMANO e, finalmente, pensa: bom, vai ver o cara estudou, não passou o segundo grau na mesa do fundão com a cabeça nas nuvens e com nuvens... Fez uma faculdade, sabe lidar com o dinheiro...
É, ele pensa, até que eu tenho mais do que pareço merecer... Preciso é aproveitar as oportunidades que me restam...






sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Aos Smurfs, Com Carinho

A borboleta sai do casulo. Que linda imagem! Um nobre momento que tanto tem a nos ensinar! Quantos power points já foram feitos, quantas metáforas foram percebidas! E a borboleta, após pousar para as encantadoras fotos, caso não tenha sido devorada viva por alguma pomba branca ou outro bucólico predador, pôs centenas de ovinhos de onde saíram larvas famintas a devastar pés de alface, de flores e outros verdes...
E os delicados beija-flores. Canso de vê-los em escandalosa agressão uns contra os outros por um arbusto ou uma garrafinha com água...
Aprendo com o buddhismo a ter uma visão cada vez mais integral dos fenômenos. Onde alguns veem um copo meio cheio e outros meio vazio, eu me esforço para ver um copo com água.
Nem pessimismo tolo nem otimismo bobo.
As coisas são o que são.
A tristeza, a frustração e o desânimo surgem, em grande parte, de ter visões iludidas do mundo. Crer que as coisas são algo mais, ou enxergar só aquilo que o nosso condicionamento momentâneo nos permite ver. Normalmente, percebemos o que nossos ignorados estados emocionais nos permitem ou engendram para nós. Ao reconhecer - ou ao menos fazer um esforço para isso - a natureza composta e incontrolavelmente inconstante de nosso ser, podemos podar os exageros que brotam do mundo que nossa percepção germina.
Sem tristeza, sem entusiasmo, sem ilusão.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A Rede

Dia desses eu entrei num blog de um pastor evangélico que falava sobre o buddhismo. Ele não era muito simpático nas colocações. Nem preciso... Parecia ter um conhecimento bastante limitado do que falava... Mas também há blogs que são só mais simpáticos. E escritos por declarados buddhistas.
A internet é uma maravilha por isso também! Total liberdade! Cabe a nós sabermos o que queremos.
E como buscar.
Hoje, uma diretriz básica deixada pelo Buddha é mais relevante que nunca: não creia a priori. E nem descreia! Investigue. Leia o quanto quiser, mas use a sua capacidade de discernimento e, se for o caso de querer se aproximar do buddhismo, experimente.
Uma dica para os leitores: quando uma idéia, ensinamento ou princípio aparece em mais de uma fonte, distintas umas das outras, é bastante provável que seja algo, vamos dizer, 'autêntico'. Nisso, estou sendo bem superficial. Há coisas que parecem bem diferentes mas que, com devida investigação e experiência, revelam-se variações apenas. Logo, o ideal mesmo é que você se empenhe!
O buddhismo, de certa forma, padece de ser, e por ser, considerado uma religião que se adapta, uma religião que absorve elementos culturais e se transforma. Nunca me adaptei (!!!) muito bem a essa consideração.
Por estar dedicando já a algum tempo parte do pouco que dele tenho ao buddhismo, venho pensando que talvez essa coisa de Buddhismo Tibetano, Buddhismo Zen, Buddhismo Theravada etc, a rigor, não exista! O que existe é um Tibetanismo Búddhico, Zenismo, Theravadismo... Os elementos culturais é que são transformados em Caminho. Comportamentos, hábitos, costumes são adaptados para que se tornem meios que conduzam ao despertar. Exatamente, aliás, como devemos, idealmente, fazer com nossas vidas quando buddhistas! Quem vê de fora não percebe essa sutileza, mas eu acho que é impossível para alguém que efetivamente conheça o buddhismo um pouco mais a fundo, discordar dessa minha colocação. Talvez, nem seja preciso aprofundar-se muito, visto que a mim parece ser algo bem claro! Uma expressão do mestre Buddhadasa (veja no 'mapas' aí do lado) caiu como uma bigorna em mim: "Eu aspiro ao Buddhayana!" Eu li isso e foi: BUMBA! Tanta diferença que li e ouvi e o cara me acerta com uma dessa!!?
Pois é, seja como for, viva a liberdade da rede! E quem sou eu para condenar, não é mesmo!!?
Saiba o que procura! E como procura! Não creia e sempre investigue! Inclusive a si mesmo! Tenha um pouco de clareza com respeito a se aquilo com o que você concorda e acha bom não é apenas algo que você quer achar bom mas que pouco ou nada tem a ver com o Dhamma do Buddha. Porque também tem isso...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Hêee... Ô-hooo... Vida de Laico...

Eu que faço parte dessa massa que tem que tirar do suor do próprio rosto o seu sustento, preciso dar um jeito de encaixar o Nibbana neste drama!
A idéia que se tem de buddhismo, para muitos ainda é a do monge sentado em profunda meditação. Que certamente corresponde a parte da verdade.
Parte.
Por que o Buddha não negou instruções aos trabalhadores em seus ensinamentos mais antigos preservados, justamente os que ordenam a tradição considerada como a mais monástica!
Nós que duramente temos que caminhar, podemos, sim, levar uma vida Dhammica dentro dos preceitos mais antigos do buddhismo. Mas temos que demonstrar nossa coragem, à margem do que possa parecer.
Não é fácil conduzir a vida dhammica inserido em tanto ruído. Por outro lado, abundam oportunidades de exercitar os preceitos, as perfeições, a disciplina como um todo.
Nenhuma novidade, claro!
Paciência consigo próprio é fundamental quando o cansaço impede que sentemos para meditar.
A aflição de ter tanto para fazer e tão pouco tempo é um lembrete do que realmente importa na vida.
E as pessoas! Ah, as pessoas...! E o sistema! Ah, o sistema...!
Estar tão próximo da ignorância, efetivamente nos dá uma visão privilegiada da engrenagem e da ferrugem a lhe comer. E desse ponto de vista, seguir sempre fazendo o melhor que pudermos é uma provação, para as nossas ética e compaixão, do mais alto grau.

domingo, 26 de julho de 2009

Frequência Samsarizada

De quatro a cinco dias por semana tomo o mesmo ônibus para o trabalho.
Ônibus fretado pela empresa.
Com o mesmo motorista.
O ônibus tem um rádio que o motorista mantém sintonizado sempre na mesma emissora.
A emissora toca as mesmas músicas, praticamente nos mesmos horários e, tenho quase certeza que, muitas vezes na mesma sequência.
Há aqueles momentos da programação em que os ouvintes escolhem, dentre três músicas, qual deve tocar novamente. Ou seja, ouve-se a mesma música num intervalo de uns doze minutos. Uma música que toca diariamente durante a programação em outros momentos. E já se sabe, quase sempre no anúncio, qual música vai ganhar.
É uma emissora de um gênero específico. O que significa que mesmo quando há o lançamento de uma música nova, tudo está lá de novo: acordes, arranjo, letras, ritmo, vocais.
A locutora está sempre muito feliz e simpática.
Exatamente como o locutor que a substitui nas férias.
Por que é tudo tão igual?
Porque os ouvintes gostam.

sábado, 25 de julho de 2009

Caminho do Meio

O Caminho do Meio é um caminho de entendimento.
Buscamos uma vivência de menos enredamento pelo mundo. Este desenredar-se se dá pelo contínuo desenvolvimento e aplicação da atenção (sati) dirigida às ocorrências sensoriais: atenção investigativa ao que se vê, ouve, cheira, pensa, etc.
Tencionamos a experiência dos fenômenos ao invés da habitual nomeação ou conceituação do É isso. Tentamos nos manter na trilha, seguros entre os extremos da negação e do aprisionamento pelos sentidos e pela mente que compacta os fenômenos em momentos e partículas estanques.
De certo modo, podemos dizer que dirigimos a percepção para o meio das coisas. Penetrando a casca com a qual a mente veste e as separa de nós e nós delas, e vamos desmanchando os nós que aparentam ser a realidade... Vamos desfazendo a rede pelo meio, de dentro para fora.



quarta-feira, 22 de julho de 2009

Gravetos

Uma das imagens de que eu mais gosto no buddhismo é aquela do atrito dos gravetos gerando o fogo que os consome.
Como a mente que busca a experiência que irá evidenciar a sua própria inexistência inerente.
O Buddha nos diz que não precisamos crer em nada a princípio, cultuar nada. Nenhuma essência iluminada, nenhuma lei cósmica, nenhuma metafísica, nenhum salto de fé para o desconhecido. Apenas a mente mundana que temos e seus fatores, sendo o principal deles a atenção ou vigilância (sati), é do que precisamos. Devidamente treinados e cultivados, levarão à transcendência que surge do fogo da visão direta e clara da realidade tal como ela é.


domingo, 19 de julho de 2009

- é +

Centros de Dhamma são locais para aprendermos a abandonar, desfazermo-nos, deixar, soltar, largar...
Sair de um centro ou palestra de Dhamma sentindo-se mais sábio, mais desapegado, mais feliz, mais livre, mais calmo talvez não seja tão bom quanto sair sentindo-se menos ignorante, menos apegado, menos descontente, menos preso, menos irritável, menos...
Tomar consciência do que deixamos de ser ou ter me parece estar mais de acordo com o Caminho do que nossa tendência natural de focar o que conseguimos obter...

sábado, 11 de julho de 2009

Susan B.

Susan B. provou acidentalmente a si mesma e ao mundo que podemos fazer muito mais do que nos fazem acreditar. Mesmo que um prêmio Nobel sustente esta crença.
O B é de Barry.
Susan Barry é uma neurocientista americana de 55 anos que aos 48 corrigiu um problema cerebral o qual estudos, inclusive ganhadores do Nobel, indicavam que após os 2 anos de idade não haveria mais conserto. Corrigiu o problema re-educando o cérebro, pode-se dizer.
Graças a um estrabismo de nascença, o seu cérebro aprendeu a ver o mundo em duas dimensões apenas. Como numa foto ou história em quadrinhos. Sem a noção de profundidade. Ela só descobriu esta sua deficiência cerebral quando estava na faculdade! E, na faculdade de neurobiologia, aprendeu que a capacidade de processar as informações visuais em 3D só se desenvolve até os dois primeiros anos de vida, no máximo. Quer dizer, só restava a ela se conformar com o problema recém descoberto...
Aos 48 ela precisou fazer uma reabilitação por conta de dificuldades decorrentes de seu estrabismo, mas com os exercícios que lhe foram passados, cujo objetivo era apenas o de estabilizar a sua visão, percebeu que estava começando a enxergar a profundidade das coisas! Descobriu que estava mudando a forma de seu cérebro entender o mundo aos 48 anos de idade! E com aplicação continuada dos exercícios, corrigiu completamente o defeito.
Não é incomum ouvir de praticantes de Dhamma: "Ah... eu já estou com Xizento e xizis anos...! Não dá para esperar muita coisa, né?" Bom, agora, além da palavra do Buddha e da história de vários de seus discípulos, temos também a neurociência que, graças a casos como este narrado acima, vem mudando radicalmente o que pensava saber. A neuroplasticidade, princípio que afirma o poder auto-transformador do cérebro, se revela muito mais poderosa a cada dia. Somos, sim, capazes de mudar a nossa forma de ver e de nos relacionar com o mundo e com a vida independemente das dezenas que carregamos nas costas. É científico também, viu?
Bastam vontade e os meios corretos.

Fonte: Revista Superinteressante de julho.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Buraco de Minhoca

Buraco de minhoca, além de ser o nome do que é, também o é de um fenômeno previsto pela ciência amiga dos espirituais: a física quântica.
É uma espécie de túnel, gerado por uma quantidade colossal de energia, que é capaz de ligar dois lugares separados por qualquer grandeza de tempo e/ou espaço.
Simploriamente falando: estando uma das "bocas" na nossa sala, a outra pode estar em outra galáxia. Passando o pé pela boca daqui, ele sai lá! Ela pode estar também a, digamos, 500 anos no futuro, e nós podemos transitar livremente entre lá e aqui!!
E tem gente que duvida de uma bobagenzinha como a telepatia!!
Mas o fato é que, devido a uma grande quantidade de energia gerada pela leitura do "A Menina Que Roubava Livros", um daqueles foi gerado na minha cabeça. Com uma das bocas lá nos meus dezesseis anos.
Aquele serzinho acredita ser poeta. Graças a mim, ele agora sabe que a vida vai, em algum momento, desaparecer com ele! Mas também contei que hoje existe internet, e o moleque, esperto como é, deu um pulo aqui e deixou o que se segue:

como chegam as férias
a folga e o fim delas
chega o natal
o aniversário
aquele livro via postal
aquela revista
aquele filme
a morte chega
como chega aquele dia
e o depois
aquela hora
o passeio
a viagem e o fim dela
a morte chega
uma questão de tempo
como poucos lembram saber
uma questão de espera
em qualquer lugar
mas sempre no presente
a morte chega
pode ser amanhã ou hoje
mas depois certamente será
a morte chega
quem fica atento
às vezes vê ela passando
rapidamente abre caminho
mas ela volta
ela chega
e quem sou eu para não morrer?
o Buddha disse:
"àquele que descobre a resposta
a morte não pega"

sábado, 4 de julho de 2009

O Baleiro e o Dhamma

O que o buddhismo oferece não é algo para ser adquirido.
A paz buddhista pode ser definida como aquilo que 'sobra' após ter-se eliminado o ruido.
Isso vai diretamente contra tudo o que conhecemos da vida e, talvez, seja um dos motivos pelos quais, em alguns momentos, possa existir uma sensação de cansaço, desânimo e até decepção com a convivência em grupos de dhamma.
Presenciar atritos, intrigas, orgulhos, vaidades pode ser algo bastante chato para alguém que idealize um ambiente de pessoas comprometidas com a busca pela paz... Mas esses comportamentos, nada mais são, em grande parte na minha opinião, resultantes dessa postura de querer acrescentar a paz a nossas vidas sem reconhecer que o que realmente nos impede de experimentar a paz buddhista é o próprio desejo de acréscimo! Queremos permanecer como somos e ter ainda mais!
Meu pai conta que quando era criança tomou muitos "cascudos" dos irmãos mais velhos quando ia ao "butiquim" comprar doces. É que ele ia lá, na maior alegria, mas abria o bocão na hora de entregar o dinheiro! Queria comer o doce e queria, também, ficar com o dinheiro! Aí, já viu! Sendo o mais novo de treze, toma tapas na orelha! Diz que não adiantava explicarem para ele... Ele simplesmente queria os dois!
É mais ou menos como fazemos. Queremos paz, felicidade, nibbana (nibbana eu não sei se todos queremos!) mas sem abrir mão daquilo que o Buddha ensina ser a causa principal para não experimentarmos essas coisas: o nosso ego. Que se manifesta, principalmente, por meio de nossos gostos, desgostos, opiniões, vaidades...
O Buddha explica e explica e explica... Mas nós não entendemos!
Vamos continuar tomando tapas na orelha!

sábado, 27 de junho de 2009

Um Pouco Depois da Sessão da Tarde...

 Tenho, na minha página do Google, um alerta sobre buddhismo que me permite acompanhar o que se publica na rede sobre o assunto. Creio que uma boa parte, dada a onisciência deste deus...
Um, que eu recebi há pouco, fala sobre o enredo de uma futura novela da globo que vai ter um de seus personagens sendo, ao que parece, buddhista...
Confira aqui.
Num momento, o ator Carmo Dalla Vecchia, que fará tal personagem, diz o seguinte:

"Farei na trama o Alcino, o melhor amigo do Gustavo. Vou descobrir uma doença fatal na cabeça e por conta do budismo, não vou me abater e ainda vou alertar o Gustavo para que ele possa melhorar a vida dele, buscando sua real felicidade."


Só nos resta torcer para que o autor da novela faça um bom trabalho no sentido de apresentar, pelo menos, informações corretas sobre o buddhismo.
Vem aí mais um campeão de audiência.
Esperamos que não seja também uma fonte de asneiras, preconceitos e desinformação.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sessão da Tarde

Ter escrito algo sobre repetição num texto atrás me lembrou de uma coisa...
Há um tempo, quase meses eu acho, estava com amigos conversando e falamos sobre TV, DVD e por aí. Numa certa altura, alguém comentou sobre o hábito de assistir várias vezes um mesmo filme. Várias mesmo! Havia, na ocasião, dois na mesa que declararam o hábito: um próprio, o outro, do irmão. Eu achei curioso. Me pareceu meio absurdo e acreditei que fosse algo incomum. O irmão, por exemplo, segundo o meu amigo, assiste a trilogia Matrix! E eu não errei o tempo verbal! Ele assiste a trilogia Matrix, entre outros títulos, quase que regularmente!
Eu fiquei impressionado com aquilo. Me impressiono fácil com as coisas, pode ser...
Num outro dia, com alguns mesmos amigos e mais outros, novamente o assunto surgiu. E eu fiquei mais espantado porque o hábito se revelou não tão incomum assim. Na mesma mesa já surgiram quatro, pelo que me lembro, que o tinham! Aí eu comecei, como desagradavelmente para alguns eu às vezes faço, a questionar para querer entender aquele fenômeno: "mas como assim?", "quantas vezes?" e tal até que cheguei no "por quê" ou no "qual é a graça". Foi quando entre as não-respostas e desconversas um dos caras me disse: "Depois da quarta vez, você começa a perceber os erros nos filmes..." Essa era uma das 'graças' para ele.
Essa eu achei interessante.
Tendo assistido, até aquela data "O Gladiador" nove vezes eu acho (bom, por três eu já o condenaria!), ele me garantiu que há uma cena em que passa um avião ao fundo.
Imagine só: você lá, imerso na história e vê o aviãozinho que passa lentamente a revelar a ilusão!
Divertido!
Não foi difícil pensar a coisa em termos de prática do Dhamma.
Encontrar aquela mesma graça me parece ser um nosso desafio!
Veja, alguns assistem várias vezes as mesmas histórias e se empolgam, curtem e se deleitam com aquilo. Um outro, não sei se único mas o que declarou, descobriu um motivo "superior".
Na nossa vida, as repetições são objeto de observação. Descobrirmos os "erros" que revelam o "sonho" não seria mais divertido do que seguirmos continuamente empolgados numa eterna Sessão da Tarde?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Quase Elegia

Caixão devidamente parafusado e sepultado, nos nossos veículos tomamos a estrada sentido dukkha/sukkha e seguimos viagem.
Antes disso, o bate-papo que gira sempre em torno de vida e morte. Como precisamos viver bem porque a vida é curta e não somos nada nesse mundo, olha lá: eis oJustificar nosso futuro!...
E foi assim no velório de minha muito querida tia... Coroona carioca cheia de marra! Um coração em forma de pessoa! E o coração enorme, desgraçadamente não mais concorde em permanecer só metáfora, foi um dos fatores que nos levou até ali na semana passada.
Siga em paz e que as suas boas ações frutifiquem!
E o que seria aquele viver bem?
A vida infecta o mundo.
Entra e sai pelos nossos orifícios, está acima das nossas cabeças, sobre a nossa pele, sob nossos pés e dentro de nós! E, segundo o Buddha ensinou, além da nossa atmosfera, universo afora, e da nossa percepção convencional, há vida aos borbotões! Todas no mesmo rumo de fugir do sofrimento e buscar a felicidade. Numa absoluta confusão para a maioria. Confusão que transparece nas conversas de velório onde sempre relacionamos essa busca com obter, curtir, aproveitar, deleitar... Eis a nossa noção do valor da vida!
Se pudéssemos enxergar o movimento de nascimento e morte que existe neste nosso condicionado modo de viver!
Talvez seja a morte mais importante que o Buddha nos tenha ensinado a contemplar: a que acontece a todo momento. A cada vez que temos saciado um anseio, a cada vez que experimentamos uma sensação, a cada vez que nascemos da ignorância da concepção de um ego possuidor nós, em seguida, morremos.
A visão clara e direta desta morte para a qual somos tão cegos me parece ser o que nos tirará da confusão de antes, durante e de depois dos velórios.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Ponto de Mutação

A partir da resposta que nos dermos para a pergunta ''por que eu pratico?'' precisamos observar constantemente se o nosso modo de vida é coerente com ela.
O que normalmente nos ocorre é que ao fecharmos o livro, levantarmos da almofada ou deixarmos a reunião (e muitas vezes nem isso é preciso!) a vida toma conta da mente.
Estamos habituados à prisão! Nossa familiaridade com o ciclo repetitivo do samsara é de longa data! É natural e espontâneo que continuemos a nascer para dukkha! Por isso precisamos 'forçar a barra' se temos um entendimento do dhamma do Buddha. Independente do que almejemos alcançar, desde que seja uma meta condizente com a prática do dhamma, eu creio que ela não virá ''naturalmente''. Não é relaxando e deixando acontecer que vamos 'chegar lá'.
A observação constante da mente ensinada pelo Buddha, nos leva a uma percepção cada vez mais apurada dos motivos e movimentos internos que nos mantem nos trilhos da montanha-russa do mundo. E essa observação envolve crítica, reflexão, avaliação entre outras posturas ativas ao invés de mera aceitação e espera. Conhecimento e visão são as palavras-chave. E a cada vez que estes se aprofundam, escolhas precisam ser feitas. Ou o pouco, ou muito, que conseguimos acaba esquecido como tantas outras coisas que acumulamos nos baús de nossas posses.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Criança

Adulto: "Bom dia! Dormiu bem?"
Criança: "Ãhã! Tive uns sonhos muito malucos! Umas maluquices! De sonho, sabe?"
A: "Ãhã! Mas foi pesadelo, ou não?"
C: "Não. Só maluquices mesmo!"
A: "Então tá bom. Ruim é quando a gente tem pesadelo e não consegue acordar!"
C: "É. Mas eu consigo acordar quando eu quero..."
A: "Ah, é!? E como é que você faz?"
C: "Eu pulo que nem um sapo, daí eu acordo!"
A: "Como assim!? No sonho?..."
C: "Claro, né!? Se eu tô tendo um pesadelo, eu abaixo e pulo que nem um sapo. Daí eu acordo! Mas tem vezes que eu não lembro..."
A: "E como você inventou isso?"
C: "Não sei!... Eu fiz uma vez e pronto..."
A: "Mas você sabe que está sonhando!?"
C: "É. Às vezes. É... Muitas vezes!"
A: "Que legal!! Tenta voar! Uma vez eu soube que estava sonhando e tentei voar. Não deu muito certo... Eu tentava e tentava mas só conseguia uns pulões assim..."
C: "É assim mesmo! Quanto mais força você faz, mais difícil fica!!"
A: " :D "

domingo, 31 de maio de 2009

Testemunho

Ainda há gente que relaciona buddhismo a 'erudição' e 'práticas ascéticas'!
Num país com a média per capta de leitura do Brasil, realmente não ter como ouvir o Dhamma com a frequência que precisamos, acaba por nos tornar 'eruditos'. Temos que ler, talvez, um volume acima da média de três livros por ano!! E é possível que, para alguns, treinar a introspecção e a atenção, e manter um comportamento ético com base nos Cinco Preceitos seja uma prática de ascetismo!!
Fora isso, acho que quem afirma tais bobagens padece mesmo é de ignorância. Desconhece aquilo sobre o que está falando. E, hoje em dia, isso é um completo absurdo!
Há uma imensa quantidade de sites sobre as mais variadas tradições, em trocentos idiomas.
Por que falar bobagem?
No século passado, eu lia sobre o 'hinayana' e ficava aquilo na minha cabeça: "hinayana, hinayana... Como será esse tal de hinayana?" Naquele tempo os livros eram escassos, era uma peregrinação por sebos e livrarias, contato por carta... Outros tempos! Mas eu nunca acreditei muito naquelas histórias que eu lia. Ficava era mais curioso!
Hoje aqui estou, praticante do Theravada, o ramo mais antigo do buddhismo, aquele que preserva o conjunto de escrituras mais próximo histórica e geograficamente do próprio Buddha, um pacato cidadão, pai de família, industriário, um cara normal, nem erudito, nem asceta (ainda não fui para nenhuma caverna!) que colhe diariamente os benefícios da introspecção, da modesta horinha de meditação, do comportamento esforçado, da contemplação constante das verdades reveladas pelo Buddha e que acredita que o nibbana é uma meta tão desejável (e realizável!) hoje quanto era e tem sido por mais de dois mil e quinhentos anos!
E até escrevo num blog!
Se você chegou aqui clicando pelo mundo virtual, não considere algo confiável. Por isso mesmo há uma lista de links aí do lado para que você comece a construir a sua própria opinião e conhecimento.
Como eu disse, sou apenas um pacato cidadão que resolveu colocar o seu grãozinho de areia no caminho para que outros saibam que, entre outras coisas, esse papo de erudição e ascetismo é uma furada e pode impedir muita gente, por um tempo pelo menos, de conhecer um caminho digno e, principalmente, plenamente possível de ser trilhado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Atroz é Avijja

Diante deste fato absurdo que vitima mais uma criança, como outros que vêm numa sequência assustadora nos torturando pelos últimos anos, como pai, são o horror, o medo e a dor as reações imediatas a um tiro disparado contra a cabeça de uma menina de oito anos de idade por um rapaz de 17 em um assalto numa cidade de SP.
Como buddhista, entendo que preciso ir além da reação natural e espontânea.
Acredito que, de acordo com o que o Buddha ensinou, não devemos aceitar a distância que imediatamente surge entre nós e os 'monstros' que protagonizam tais atrocidades. Antes, me parece ser mais realista e de acordo com o Buddhadhamma, examinar as nossas mentes buscando identificar aquelas sementes ruins que, se nutridas, dariam os frutos apodrecidos de ações abomináveis como estas. Identificar à nossa volta quais são as condições que tornam possível essa safra maldita que temos colhido tão frequentemente. Porque o Buddha ensina que não há outro mal que não sejam as três raízes da aversão, do apego e da ignorância, sendo, esta última, a que reina sobre as outras duas. Ela que nos engana, nos obscurece o pensamento, nos entorpece o julgamento.
Em mim e nos 'monstros'.
Penso que o meu dever como buddhista, no sentido de proteger o mundo, deve ser estar atento a esta miséria comum antes de clamar por qualquer outra coisa.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ajahn Chah



...e aquele momento foi encerrado por um pequeno encontro com Ajahn Chah! 
Ele estava ali mesmo, por perto, junto com Buddhadasa, Bikkhu Bodhi... então, abri o livro e fui até ele!
O primeiro texto que li de Ajahn Chah foi O Gosto da Liberdade. Gostei mas não me impressionou muito. Um professor me disse que Ajahn Chah não era muito de estudo, o negócio dele era enfatizar a prática, daí eu entendi a minha então pouca afinidade com o mestre... 
Mas leitura vai, livro vem e a gente vai aprendendo alguma coisa aqui e ali... Suttas e um pouquinho de Abhiddhamma e outros textos e me cai na mão o "Living Dhamma", uma coletânea de palestras do mestre. E eu fiquei fascinado pelo livro! (tem o link para a versão on line dele aqui no "mapas no caminho"). 
Embora ele não enfatizasse o estudo, tenho a impressão de que quanto mais me 'instruo' sobre o Buddhadhamma, mais claras ficam as suas instruções! Passei a perceber e ser tocado pela sabedoria que habita na simplicidade de suas palavras de uma maneira muito pungente! É como se visse por trás daqueles singelos conselhos e raciocínios, reconhecendo a verdadeira sabedoria de um, para mim, agora, inigualável mestre. Claro que esta afirmação com respeito a ele eu já havia visto dita por gente muito mais 'esperta' que eu, mas não sou de ir acreditando nem concordando com nada logo de cara...! 
Mas sei que hoje, não perco nenhuma oportunidade de 'encontrar' com Ajahn Chah!
E recomendo para todos aqueles que queiram efetivamente viver sua vida no Caminho, se ainda não conhecem, busquem conhecer! O velhinho sabe das coisas!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Altar


Tive que desmontar o meu altar por um período. 
Sem problema para um cara pragmático, desde pequeno fã do sr. Spock. 
Continuei fazendo minhas práticas normalmente de frente para uma inspiradora parede azul...
Há poucos dias refiz o meu altar. Pus lá a minha imagem do Buddha, arranjei espaço para os meus livros de dhamma, ficou bem melhor, mais simples e com tudo num lugar só. 
Ontem, chegando do trabalho senti vontade de sentar-me diante do altar. 
E sentei. 
Mas fiquei sentado, olhando para o Buddha, sem meditar, sem recitar, só ali. 
E foi vindo na minha mente aquilo que fui compreendendo Dele pelo meu tempo de prática. 
A sensação de estar diante de um ser plenamente confiável, sábio, disposto a fazer o possível para me ajudar a encontrar o que procuro. Fiquei ali, massageando a mente/coração com aquela sensação de respeito e admiração por um ser que aprendi ser inigualável no mundo e ao mesmo tempo empaticamente acessível apesar do tempo e espaço que nos separa. 
O corpo cansado. 
A mente/coração desfrutando do momento. 
Sentar diante do altar para um 'bate-papo informal' como este com o Tathagata era uma coisa que ainda não tinha feito. 
É uma coisa que eu nunca imaginei o sr. Spock fazendo. 
O altar tem a função de servir como inspiração para a meditação! É sentar, focar a mente, se esforçar para dar mais um passinho de protozoário rumo ao nibbana! Não para 'jogar conversa fora!' 
Mas foi tão bom sentar ali e ficar 'ouvindo' o Buddha falar lá de longe, pelo tempo... E Sua voz soando tão perto...
Perdão, sr. Spock.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Um Problema de Todo Mundo 3


O encanto pelo mundo depende da ilusão de que existe um ego. Depende da ilusão da existência do experimentador, do possuidor da experiência. Daquele eu concebido pela ignorância (avijja) que permanece além das experiências.
Se alcançarmos a visão do surgimento e cessação de todos os fenômenos, o encanto pelo mundo dá lugar ao desencanto. Não havendo mais o conceito do observador, com o conhecimento de que tudo é um surgir e cessar contínuo e incontrolável, incluindo os próprios momentos mentais, os fenômenos perdem a sua graça! O processo de existir se revela em todo o seu vazio opressivo. Veremos a grande ilusão que é crer que podemos ser ou ter qualquer coisa! Desistiremos dessa fantasia irrealizável e viveremos a nossa vida da única forma em que ela pode ser vivida. Desencantados pelo mundo, não iludidos, sem desejos ou anseios, sem revolta. Felizes por aceitar e saber que não há felicidade no mundo!
É como me parece ser o que o Buddha ensinou...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Feliz Vesak!


Nunca fui muito dado a cerimônias e sempre achei que estabelecer datas comemorativas é o primeiro sinal de que o objeto da comemoração será esquecido pelo resto do tempo...
Desejo que o Vesak seja para todos nós um dia de lembrança da vida e do dhamma do Buddha. Que possamos vê-los como uma coisa só. Que seja um dia para lembrarmos do nosso compromisso com o nosso próprio despertar. Que lembremos da genorisidade, ética, compaixão, bondade, verdade. Que o Vesak seja um dia de consciência como todos os dias devem ser. Que possamos honrar o Buddha com nossas mentes atentas às três características da existência. Que possamos reforçar o nosso compromisso de sermos propagadores do Buddhadhamma com nossas ações e comportamentos tanto quanto com nossas palavras.
Abaixo, um trecho do informativo de Vesak do Grupo Nalanda de Recife onde haverá comemorações hoje.

Segundo a tradição, o próprio Buddha instruiu seus discípulos sobre como deviam prestar-lhe homenagem. Momentos antes de morrer ele viu Ananda, seu fiel assistente, chorar. O Buddha então advertiu-o a não chorar, mas compreender a lei universal de que todas as coisas condicionadas (incluindo seu próprio corpo) devem desintegrar- se.

Ele advertiu aos seus discípulos que não chorassem pela desintegração do seu corpo físico, mas que se apoiassem no Dhamma pois somente a verdade do Dhamma é eterna e não é sujeita à impermanência. Ele também enfatizou que o modo correto de prestar-lhe homenagem seria a prática sincera e verdadeira dos seus ensinamentos.


quarta-feira, 6 de maio de 2009

Um Problema de Todo Mundo 2


Não há qualquer entidade, ego ou alma que passe de um momento a outro no nosso processo de existir, mas nós achamos que há. E é nos momentos de experiência mais intensa que esta ilusão torna-se mais evidente. Quando desejamos, experimentamos ou sentimos algo fortemente o 'eu' torna-se mais saliente, perceptível, destacado... Nestes momentos, podemos dizer, o eu nasce com imenso estardalhaço!
Mas toda experiência nada mais é que um surgir e cessar constante (sabbe sankhara anicca) e o ego assim nascido, em razão de um fenômeno passageiro, incerto, momentâneo fica à deriva quando o que motivou sua existência cessa. O nosso eu ilusório 'sobrevive' à realidade que passa e então 'sofre, envelhece, adoece e morre'! Como não podemos aceitar tal destino, imediatamente saímos à caça de novas experiências, sensações e quereres que nos dêem a 'alegria de nascer de novo' e a vã esperança de permanecer! E o samsara continua... A roda gira.
Passamos a vida toda querendo ser, querendo existir verdadeiramente.
Verdadeiramente lutando contra a realidade.

sábado, 2 de maio de 2009

Vesak e Crise



A partir do dia 3 de Maio de 2009 haverá na Tailândia paralelmamente às comemoraçãoes do Vesak a conferência "A Abordagem Buddhista Para a Crise Global". Participarão do evento os brasileiros Dhammacarya Dhanapala, fundador e diretor do Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e Upasika Mudita, coordenadora do Grupo de Estudos Budhistas Nalanda de Curitiba.

Um dos subtemas da conferência será a abordagem buddhista quanto à crise econômica.

Tentando pensar a vida sob o ponto de vista do buddhadhamma, eu sempre achei curiosa a tendência econômica prevalecente atualmente de não-intervencionismo. Propaga-se o consenso de que o mercado é alto-regulado por leis que conduzem infalivelmente à prosperidade e ao bem estar da humanidade. Sempre ouvi isso como se dissesssem que deixando-nos dominar pela ganância, avareza e desejo de consumo desenfreado isso fosse nos trazer algo de bom! Claramente um absurdo, para mim!

Agora, com a crise detonada justamente por estes fatores, clama-se pela intervenção do estado guardião do bem-estar social! Vejam os EUA, o grande pai da doutrina da não-intervenção, alçando o pobre Barack a messias! Não é um atestado do absurdo que é a existência!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Um Problema de Todo Mundo


O buddhismo ensina que 'por trás' de nossas experiências/ações não há uma 'entidade' tal como alma ou ego. Algo que seja o 'observador/experimentador' daquilo que nos ocorre e separável das experiências em si. É a doutrina de anatta: o não-eu.
De acordo com esta doutrina quando, por exemplo, caminhamos, e pensamos que 'eu estou caminhando', este 'eu' que caminha é a ilusão, a criação da mente, pois não há nada no ato de caminhar além do caminhar. Não há o ego que seja levado pelo corpo/mente que caminha. Cada passo, cada movimento, cada impressão/sensação é um fenômeno que surge e cessa em dependência de condições/causas.
Mas nós não sentimos assim.
Há o andante, o caminhante que perdura a cada passo. Se deixarmos o exemplo do caminhar, há o fazedor/experimentador de toda e qualquer coisa. O ego criado pela mente 'passa' de um fenômeno para outro sempre e sempre. Segundo o Buddha, este é o problema de todo mundo.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Todo Mundo Tem Problema


O Buddhismo não estabelece um começo para os fenômenos. Tudo surge e cessa devido a causas e condições, continuamente. Mas nós, na nossa ignorância, compactamos a realidade em pontos iniciais e finais. Então, quando enfrentamos um problema qualquer o enxergamos à parte no espaço e no tempo, destacado do resto de nossas vidas. Uma dor de cabeça (literal ou figurada) não é um evento isolado. Ela é apenas uma manifestação natural do emergir de causas e condições. Da mesma forma, quando ela cessa, nada de realmente 'bom' aconteceu. É apenas o cessar de um fenômeno condicionado até a próxima dor de cabeça aparecer. Mas nós não vemos isso.
Isso leva a nos atolarmos na ilusão. Quando um problema surge, nós achamos que uma coisa insuportável e estranha está acontecendo! Que não era para ser assim! Vemos aquilo como algo dissociado do resto de nossas vidas. Temos a certeza de que não era para acontecer deste jeito, não devíamos ter nenhum problema! Quando, na verdade, ter problema é justamente a essência de existir.
Aí vem a luta para superar. Precisamos vencer! E, se conseguimos, comemoramos a vitória e pensamos que 'agora sim, tudo voltou ao normal!'. Penso que este é um dos nossos maiores enganos: nos deixar levar pelo alívio, acreditando que a vida voltou à sua 'normalidade'. Muito mais sábio seria entender que o cessar de um tormento é apenas um breve intervalo, logo virá outro e, em grande parte, justamente porque nos deixamos iludir pela 'pseudovitória' sem nos dar conta do que a vida é: um surgir e cessar sem outro sentido a não ser o de surgir e cessar. Sem sentido até que entendamos isso, eu acho.

sábado, 25 de abril de 2009

E Aí, Peixe?


Se perguntássemos a um peixe: "Ei, peixe! Como está a água?" Ele provavelmente nos olharia de volta e perguntaria: "Mas o que é água!?" Esta é mais uma que eu não esqueço daquele professor! Não sei de onde ele tirou essa ou se tirou de algum lugar...
Temos a mesma reação que o peixe quando o Buddha nos instrui sobre a natureza de anatta. Estamos tão imersos nessa existência dos eu, meu e meu eu que ficamos sem chão ao considerar o assunto logo de cara. Como o peixe, nós naturalmente não paramos para pensar na visão que temos da natureza da nossa realidade. Quando o Buddha afirma que ela mesma é que é o problema, nos vemos sem alternativa! "Ora, e agora!? Do que Ele está falando!?" Se aquilo que é tudo o que conhecemos é o problema, significa que o problema não tem solução? Significa que o problema, efetivamente, nunca existiu! Diferente da água, que é uma realidade objetiva e externa ao peixe, os eu, meu e meu eu são obra da mente. São artifícios da mente numa iludida interpretação da realidade. Essa necessidade de compactar as coisas em entidades permanentes, por exemplo a certeza que temos de que o eu que inspirou é aquele que expira agora, é que deve ser revelada e dissolvida pela sabedoria introspectiva. Quando começamos a duvidar de nós mesmos, com base naquilo que o Buddha ensinou, a perplexidade, fruto da certeza, começa a diminuir. E, novamente, diferente do peixe que não vive fora da água, nós podemos viver 'fora' do eu. E conforme ensinou e demonstrou o Buddha e muitos de seus discípulos ao longo do tempo, viver muito melhor...

Speech by ReadSpeaker