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Bornes relacionados com Miniaturas

Buscando...?

terça-feira, 28 de abril de 2009

Todo Mundo Tem Problema


O Buddhismo não estabelece um começo para os fenômenos. Tudo surge e cessa devido a causas e condições, continuamente. Mas nós, na nossa ignorância, compactamos a realidade em pontos iniciais e finais. Então, quando enfrentamos um problema qualquer o enxergamos à parte no espaço e no tempo, destacado do resto de nossas vidas. Uma dor de cabeça (literal ou figurada) não é um evento isolado. Ela é apenas uma manifestação natural do emergir de causas e condições. Da mesma forma, quando ela cessa, nada de realmente 'bom' aconteceu. É apenas o cessar de um fenômeno condicionado até a próxima dor de cabeça aparecer. Mas nós não vemos isso.
Isso leva a nos atolarmos na ilusão. Quando um problema surge, nós achamos que uma coisa insuportável e estranha está acontecendo! Que não era para ser assim! Vemos aquilo como algo dissociado do resto de nossas vidas. Temos a certeza de que não era para acontecer deste jeito, não devíamos ter nenhum problema! Quando, na verdade, ter problema é justamente a essência de existir.
Aí vem a luta para superar. Precisamos vencer! E, se conseguimos, comemoramos a vitória e pensamos que 'agora sim, tudo voltou ao normal!'. Penso que este é um dos nossos maiores enganos: nos deixar levar pelo alívio, acreditando que a vida voltou à sua 'normalidade'. Muito mais sábio seria entender que o cessar de um tormento é apenas um breve intervalo, logo virá outro e, em grande parte, justamente porque nos deixamos iludir pela 'pseudovitória' sem nos dar conta do que a vida é: um surgir e cessar sem outro sentido a não ser o de surgir e cessar. Sem sentido até que entendamos isso, eu acho.

sábado, 25 de abril de 2009

E Aí, Peixe?


Se perguntássemos a um peixe: "Ei, peixe! Como está a água?" Ele provavelmente nos olharia de volta e perguntaria: "Mas o que é água!?" Esta é mais uma que eu não esqueço daquele professor! Não sei de onde ele tirou essa ou se tirou de algum lugar...
Temos a mesma reação que o peixe quando o Buddha nos instrui sobre a natureza de anatta. Estamos tão imersos nessa existência dos eu, meu e meu eu que ficamos sem chão ao considerar o assunto logo de cara. Como o peixe, nós naturalmente não paramos para pensar na visão que temos da natureza da nossa realidade. Quando o Buddha afirma que ela mesma é que é o problema, nos vemos sem alternativa! "Ora, e agora!? Do que Ele está falando!?" Se aquilo que é tudo o que conhecemos é o problema, significa que o problema não tem solução? Significa que o problema, efetivamente, nunca existiu! Diferente da água, que é uma realidade objetiva e externa ao peixe, os eu, meu e meu eu são obra da mente. São artifícios da mente numa iludida interpretação da realidade. Essa necessidade de compactar as coisas em entidades permanentes, por exemplo a certeza que temos de que o eu que inspirou é aquele que expira agora, é que deve ser revelada e dissolvida pela sabedoria introspectiva. Quando começamos a duvidar de nós mesmos, com base naquilo que o Buddha ensinou, a perplexidade, fruto da certeza, começa a diminuir. E, novamente, diferente do peixe que não vive fora da água, nós podemos viver 'fora' do eu. E conforme ensinou e demonstrou o Buddha e muitos de seus discípulos ao longo do tempo, viver muito melhor...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Samsara e o Timão


Tive um professor que marcou a minha caminhada espiritual pela personalidade e estilo de ensinar. Ele, entre outras boas sacadas, quando ensinava sobre samsara e renúncia, dizia que nosso sentimento com relação a estes tópicos era bastante curioso... Dizia que a gente sempre, sempre, lá no fundinho, tentava achar uma alternativa para a desgraça que é o mundo, a existência! Que a gente ouvia, lia, meditava mas ficava aquilo lá por baixo coçando; "Mas e se...?"; "Talvez...!"; "Será que não é deste outro jeito...!?" E completava com uma frase da qual eu me lembro sempre e que dá um bom post no momento, visto que o timão está em mais uma final!! (sim, eu sou corinthiano). Ele dizia que o samsara era muito ruim, mas se pelo menos o Corinthians fosse campeão!!

terça-feira, 21 de abril de 2009

...mas é o que há para fazer


Os comentários do último post tocaram no ponto sempre delicado de prática X estudo, de ideal e realidade.
E aí eu sempre vi coisas interessantes...
Logo no início do meu envolvimento com o buddhismo, num programa da TV Cultura voltado para jovens, houve um encontro entre representantes de várias religiões e tinha lá um rapaz de uma tradição buddhista. Houve um momento em que se pediu para que cada um fizesse uma espécie de síntese de sua religião e o rapaz falou um negócio tão 'sofisticado' a respeito do buddhismo que eu fiquei, junto com a platéia, em silêncio reverente (bom, irreverente, no meu caso!). Aquilo me traumatizou e eu criei a intenção de jamais fazer um negócio daquele! Aquilo foi um exemplo claro, a meu ver, de uma abordagem intelectualizada e estéril do dhamma que não leva a parte alguma, a não ser a uma inflação do ego, talvez.
O outro lado são pessoas que à menor sugestão de dar uma aprofundadazinha no estudo, logo saem com aquele 'Ah, vai meditar! Buddhismo é prática!' Uma maneira de ver que é tão ruim, na minha opinião, quanto a outra. Sabe-se lá porque há tais comportamentos (tenho cá minhas idéias, mas não vou postar aqui agora...!) mas eles são inábeis em lidar com as dificuldades da prática.
Eu acho que o estudo é fundamental! Tão fundamental quanto a prática! Compreendermos os conceitos, trabalharmos na mente, aprofundarmo-nos neles por meio da contemplação constante, durante e após a meditação é de grande ajuda, sim! A mera lembrança de uma compreensão que tivemos, durante um momento de crise, é bastante útil no sentido de dissolver um pouco a tensão e até pode clarear a mente para a compreensão do que está ocorrendo de fato. Isso sem falar na prevenção das crises!
Nesse ponto a questão do onde estamos e do onde pensamos que estamos é crucial, como foi dito lá nos comentários... Dependendo da nossa reação aos momentos de crise, e esse é O momento, podemos avaliar como está a nossa prática da religião como um todo e ter uma idéia do que nos falta: "Será que preciso meditar mais... Ou estudar mais... Ou menos!?"
Se temos uma postura de decorar palavras bonitas e conceitos complexos ou de relaxar meditando, e não conseguimos unir as duas coisas da melhor forma que pudermos, e se deixarmos de nos questionar e de aproveitar as crises para nos avaliar, certamente nossa idéia de onde estamos não vai corresponder à realidade e aquele ideal que parecemos cultivar continurá sendo, cada vez mais, um ideal. Continuaremos ou a fugir das dificuldades ou a repetir aquilo de 'Ah, o buddhismo é difícil...! Mas não podemos desistir'. Desistir do que se nem começamos direito!?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Difícil...


Visto que o Buddha afirmava que o seu Dhamma ia na contra-mão do mundo, e desde que nós somos parte desse mundo, estranho seria seria não encontrarmos dificuldades nele!
Se tudo no Buddhadhamma parece agradável, se toda meditação deixa uma sensação de enlevo, se todo estudo confirma tudo o que sempre pensou a respeito da vida, se o Dhamma parece ter sido exposto para você... Desconfie! Não há nada que cause algum incômodo, inquietação, que mexa com as suas crenças e convicções...? Desconfie! Pense bem... "Será que eu ouvi direito?"; "Será que é isso mesmo?"...
Você está conhecendo ou praticando o Dhamma que o Buddha ensinou ou o Dhamma que você quer?
Eu acho que as dificuldades, inquietações, e até algum mal-estar de vez em quando, não são problema. Afinal, não somos desse mundo que está na contra-mão do Dhamma?
Um problema pode ser a maneira de reagir a isto.
Temos a opção de enfrentarmos as nossas inquietações, investigarmos sem medo a verdade que o Buddha revelou, tomarmos o incômodo como um estímulo para a nossa busca levando em consideração as próprias palavras do Buddha, ou ficamos com a parte que nos parece doce e agradável, que nos tranquiliza e acalma, que se encaixa tão bem com o nosso modo de pensar... Mas que pode ser só parte do Caminho! Que se já está tão bem adaptado, não tem o que transformar! Mas não é justamente de transformação do que mais precisamos?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Ser Buddhista


De vez em quando alguém pergunta o que é preciso para ser buddhista, como se tornar buddhista, o que é ser buddhista, no que crer...
'Tecnicamente' falando, eu responderia que é preciso assumir o que nós buddhistas conhecemos como As Três Jóias ou os Três Tesouros como um objeto de refúgio, ou de fé, ou de proteção que são o Buddha, o Dhamma e a Sangha.
Ter o Buddha como refúgio significa compreender que Ele foi o ser que realizou o objetivo máximo que pode ser realizado. E que é o guia absoluto daqueles aptos a trilhar o caminho espiritual que Ele revelou. É o modelo e a inspiração fundamental.
O Dhamma revelado e ensinado pelo Buddha é o ensinamento perfeito e completo que, se seguido adequadamente, conduz ao mesmo resultado alcançado por Ele, o pleno Despertar.
A Sangha é a comunidade de seres que praticam o Dhamma da forma adequada e colhem os seus resultados, por isso são seres dignos de respeito e um fiel suporte e incentivo.
Isto é o bem básico e o 'técnico'.
Mas falando de uma forma mais aprofundada (não profunda, aprofundada!), uma coisa que um Buddhista precisa considerar é que, na verdade, ser buddhista requer a disposição de pensar em deixar de querer ser qualquer coisa. É preciso, em algum momento, começar a refletir sobre isso... Contemplar essa idéia... O que não é algo fácil para nós que, talvez, nem consigamos imaginar como é que se pode não ser alguma coisa!! Mas para que compreendamos isso é que existem Os Três Tesouros descritos acima!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Fé em Pañña


Ter fé em pañña, significa confiar que realizar a verdadeira natureza dos fenômenos tais como eles são, dukkha, anicca e anatta leva à pacificação de todos os nossos tormentos.
O objeto de pañña é o 'mundo', ou seja, o todo de nossa experiência mental/sensorial. Por estarmos num estado em que carecemos do conhecimento da verdade dos fenômenos e em que, por isso mesmo, criamos ilusões em profusão nos mais variados níveis e fazemos disso o nosso mundo, a fé em pañña tem uma importância crucial para nós. É dessa fé/confiança que surge o sentimento do valor e da necessidade da introspecção e a energia para nos comprometermos com a vigilância (sati), com os treinamentos, com a prática formal de meditação e o estudo. Ou seja, tudo aquilo que aumente a nossa sabedoria.
Sabedoria, ou pañña, é muito mais que 'saber'. É perceber de forma atenta e sagaz, investigar e analisar o 'mundo', transformando a mente no que diz respeito ao seu próprio funcionamento e não apenas pelo acréscimo de conhecimento.
O cultivo de pañña corrói o apego (upadana). A mente que funciona de acordo com pañña liberta de upadana por que sabe, por entender-se também a si mesma, que não há ao que apegar-se, que para que o apego surja, algo inexistente, falso, precisa ser criado e, sendo falso, só pode gerar problema (dukkha)!
Sendo o 'mundo' o objeto de pañña, um efeito imediato para quem tem fé neste fator mental e busca cultivá-lo é uma maior tolerância para com a vida. Enfraquece nossa habitual vontade de estar em outro lugar ou de outra forma no momento em que nos lembramos de que estamos exatamente onde pañña, que nos libertará, age! Para onde quer que vamos, como quer que estejamos, estamos no 'mundo' e o 'mundo', enquanto não percebido por pañña, nos trará problema.
De um jeito ou de outro.
Mais cedo ou mais tarde.
Segundo o Buddha.
Então, por isso eu penso que precisamos compreender, valorizar e cultivar esta fé e confiança nesse fator. E no Buddha. Pois o Buddha nos assegura que, apesar do medo que possamos ter, não há paz que supere àquela do fim do 'mundo'.


Fé em Samadhi


Samadhi é a capacidade da mente de permanecer com um objeto sem distrações. Esta estabilização da mente tem efeito sobre o corpo mesmo em seus estágios mais básicos, eu acho. Uma mente que esteja apenas levemente serenizada e focada já provoca bem estar no meditador. Isso por si é um estímulo para a prática da meditação. Porém, acho que no sentido de desenvolver a fé/confiança em samadhi, não é suficiente.
Essa fé/confiança deve vir do entendimento de que uma mente concentrada é uma ferramenta indispensável para o entendimento da realidade tal como ela é. Isto é o que foi ensinado pelo Buddha. A concentração é algo a ser desenvolvido pelo praticante como um meio e não um fim em si. Mesmo os seus efeitos benéficos imediatos para o composto psicofísico são meios e não o objetivo último.
Eu entendo essa diferença como parecida com a que existe entre o atleta e o 'malhador' de academia. O atleta condiciona o corpo com a intenção de utilizá-lo para um outro fim, um 'malhador' de academia o faz apenas porque sente-se bem fazendo.
A fé em samadhi, penso eu, quando surgida da compreensão e da confiança no poder que uma mente devidamente cultivada tem de conduzir à erradicação de dukkha, é o tipo de fé que fomenta de forma mais poderosa a prática espiritual. Não sendo assim, a prática pode converter-se em apenas mais um paliativo entre tantos outros que existem para dukkha.

domingo, 5 de abril de 2009

Fé em Sila 6

"...tem gente que bebe para esquecer e, depois que esquece, bebe pra lembrar!..." Era o que dizia, se bem me lembro, um verso de uma música do grupo Exporta Samba, se bem me lembro, num dos LP's do meu pai que cresci ouvindo como filho carioca do tempo em que pagode se chamava 'Samba de Partido Alto'!
É uma divertida percepção de um dos efeitos que os intoxicantes induzem na mente. Há também o efeito de desinibir, 'soltar', relaxar, aproximar as pessoas... Todos eles resultantes, me parece, em grande parte, de embotar uma das principais qualidades mentais a ser cultivada pelo buddhista: o discernimento.
A prática do Buddhadhamma é toda voltada para o cultivo e desenvolvimento do discernimento. Porque é da nossa natureza não tê-lo bem desenvolvido, segundo o Buddha, é que nós permanecemos subjugados por dukkha. Então, uma pergunta óbvia: para quê deixar ainda mais precária uma coisa que, para a nossa infelicidade, já não funciona bem?
Abster-se de tomar intoxicantes, antes de qualquer coisa, diz respeito a, na minha opinião, tomar consciência da importância do cultivo da introspecção e do discernimento. Nós precisamos aguçar cada vez mais estas características, talvez até a ponto de descobrir outros 'intoxicantes' mais sutis. Podemos nos perguntar por quê e como vemos TV?

sábado, 4 de abril de 2009

Fé em Sila 5






Deixar-se dominar pela esfera sensorial é o problema. Manter-se escravo dos sentidos é o resultado da desatenção às experiências sensoriais. O que frequentemente leva à dukkha.
O Buddha ensinava que nós continuamos presos ao ciclo de dukkha por vermos como permanentes as coisas impermanentes, satisfatórias as insatisfatórias e como possuidoras de uma entidade essencial indivisível aquilo que não a possui (esta última é mais evidente como uma ignorância da natureza dependente das coisas).
A má conduta sensorial tem como seu fundamento especificamente a ideia da satisfatoriedade. Enquanto não refletimos sobre as três características com relação aos objetos sensoriais, em especial a insatisfatoriedade (dukkha), continuamos presos. A sensação é, pelo próprio poder que exerce sobre a nossa mente, um momento da nossa experiência ao qual devemos dar grande atenção. A ponderação e investigação constantes sobre a forma como nos relacionamos sensorialmente com o mundo é um treinamento de compreensão e libertação em si mesmo, de acordo com o Buddha. Manter-se cego e, em consequencia, sujeito a esse poder, deixando-se guiar por desejos em série sem nenhuma consciência do que acontece, meramente 'desfrutando' daquilo que a vida tem para nos oferecer, é o comportamento que deve ser transformado com a ajuda do Quarto Preceito.
Penso que, abordado dessa forma, ou seja, indo além da mera 'restrição' e compreendendo-o como um treinamento fundamentado na natureza da realidade, a característica da fé como confiança torna-se mais evidente fortalecendo a própria fé.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fé em Sila 4


Mentir é criar uma ilusão. Ou manter uma ilusão.
A prática do Buddhadhamma conduz ao Despertar, ao fim de todo sofrimento, ao fim de dukkha. Esse Despertar é o resultado de ver a realidade tal como ela é, segundo o Buddha. Ou seja, nada é mais anti-dhamma que a mentira! Isso é fácil de ver.
O ato e o hábito de mentir e enganar mantém a mente em permanente contato com a própria essência do que é a natureza do samsara: a ilusão! Daí o treinar a mente por meio do preceito de não mentir significa ir nos desacostumando de sermos tolerantes com a ilusão, enxergando a sua perniciosidade. Que é, talvez, pior quando o engano é auto dirigido. A sinceridade e honestidade deve começar para com nós próprios.
Sem entrar em detalhes complexos como motivação e resultados da mentira, eu acho que para um buddhista o que importa é ter a consciência do fato de que a mentira é a própria natureza do samsara.

Fé em Sila 3


Tomar posse de forma ilícita significa que estamos plenos de vários sentimentos e visões equivocados da realidade segundo o Buddha. O desrespeito pelo bem estar alheio, a crença na ilusão de possuir coisas, o enganar-se na possibilidade de satisfação pela materialidade, o completo domínio permitido ao desejo saltam mesmo a um pequeno esforço de percepção.
Quando nos permitimos gerar a sensação de posse de forma ilícita estamos fomentando uma das mais prejudiciais e toscas formas de ignorância apontadas pelo Buddha: o senso de meu. Aceitar o "meu" de forma irrefletida e comum é fechar os olhos para a principal porta de saída do samsara, é jogar fora o vidro do mais poderoso remédio para dukkha: a realização de anatta, a ausência de um ego.
Não basta nos apegarmos àquilo que temos o direito de possuir honestamente, precisamos nos tornar ainda mais tolos e iludidos criando a fantasia de que o que é de um outro, ou ao que não temos direito, é nosso!

Fé em Sila 2


De imediato é possível perceber que todos os cinco preceitos nos conduzem a uma contenção do nosso sentimento exacerbado de ego. Ferir, roubar, enganar, usufruir dos outros ou nos abandonar aos gozos ou nos embriagar significa que acreditamos que somos mais importantes, em alguma medida, que os outros seres.
Mas tem mais.
Causar dano é o caso mais óbvio. Com o ego inflado, dando-nos o direito de ferir outros seres, negamos a capacidade que temos de sentir compaixão, de nos pôr no lugar dos outros, de tentar enxergar as coisas a partir de um outro ponto de vista. É virtualmente impossível existir sem, de alguma forma, ferir outros seres. Mas fazer disso uma justificativa para agir de forma irrefletida e desreipeitosa para com o sofrimento alheio, cegos e indiferentes é o que me parece ser o grande problema a ser evitado e corrigido pela visão da realidade. Não ferir e proteger os seres está baseado na realidade da interpendência de todos os fenômenos, na igualdade da nossa natureza sofredora e no fato de que todos tem os mesmos direito e desejo de não sofrer. E exercitar este duvidar da própria importância diante do universo, faz com que nos aproximemos da visão da irrealidade do nosso ego.
Assim, abster-se de causar dano e agir ativamente pelo bem estar dos seres fundamentado nesta visão, constitui-se num treinamento que, por estar de acordo com a natureza da realidade, nos capacita a vivê-la cada vez mais profundamente.

Fé em Sila 1


Sila, ou a disciplina moral buddhista significa, fundamentalmente, não ser causa de sofrimento a seres aptos a sofrer. Nós mesmos, inclusive. Tomar os Cinco Preceitos são a forma mais básica de um buddhista se comprometer com sila.
A forma como tenho gostado de pensar neles é: Não matar (causar danos), não roubar (tomar posse de forma ilícita), não mentir (enganar), não se comportar de forma prejudicial no campo da sensualidade e não consumir intoxicantes.
Além da abstenção destes comportamentos inadequados, o exercício daqueles comportamentos que atuam como opostos também fazem parte do compromisso. Assim, não causar dano é melhor se acompanhado de uma atitude de proteção e fomento ao bem estar dos seres; não roubar e respeitar e proteger as posses dos outros; não enganar e ser verdadeiro, sincero e transparente em palavras e atos; não ter comportamentos sensuais inadequados e não fomentá-los nos outros; não consumir intoxicantes e exercitar o discernimento.
O manter dos preceitos depende, em grande medida, da fé. Existe a fé no kamma. Manter os preceitos tanto nos protege do mau kamma quanto nos favorece a acumular o bom kamma. Porém, o kamma é uma coisa que para a imensa maioria dos buddhistas está mais ligado à crença. Acho que uma forma mais fiel ao entendimento de fé como sendo confiança, é a compreensão de que sila implica no comportamento que está de acordo com a natureza da realidade conforme o Buddha a ensinou, sendo assim um treinamento que habilita a mente a cada vez mais estar em sintonia com esta visão da realidade. E quanto mais compreendermos a visão de realidade ensinada pelo Buddha, maior será a nossa fé em sila.

quinta-feira, 2 de abril de 2009


Fé no buddhismo é dependente de compreensão. Quanto mais compreendermos o ensinamento do Buddha, maior será a nossa fé. Não há a necessidade de crer em primeiro lugar. O que não significa que não haja aspectos do Caminho que dependam de uma aceitação pré-compreensão (por algum tempo, pelo menos, é o que dizem...!). Mas estes não são fundamentais a ponto de impedir alguém de tornar-se um buddhista por não aceitá-los completamente. O Caminho é gradual e as verdades fundamentalmente relevantes para o despertar são acessíveis para quem puser em prática as instruções do Buddha.
Assim, fé assume um significado de confiança mais do que de crença. Uma confiança no Buddha é o suficiente para começar a praticar. Um voto de confiança.
Alguém que sinta a necessidade de, por qualquer motivo que seja, iniciar um caminho espiritual e entre em contato com o buddhismo, pode ter despertado em si esse voto de confiança pela mera compreensão intelectual dos princípios básicos do Dhamma. A partir daí, o Caminho gradualmente se constrói. E um objeto dessa fé/confiança no Caminho é o princípio chamado de Os Três Treinamentos: sila, samadhi, pañña (disciplina moral, concentração, sabedoria).

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