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Bornes relacionados com Miniaturas

Buscando...?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

upādāna

De vez e quando alguém pergunta se não haveria um 'apego bom'. Um apego do qual não precisaríamos nos livrar.
Isso vem do nosso mal entendimento do que significa a palavra pali upādāna causado pela recorrente dificuldade de tradução. Upādāna abrange, segundo Ajahn Buddhadasa em "A causa do Sofrimento na Perspectiva Buddhista" (pág. 94), os significados de: apegar-se, agarrar e segurar. Ele, inclusive, aconselha-nos a combinarmos mentalmente estes três significados e passarmos a usar a palavra pali com o entendimento resultante ao invés da tradução apego.
Nossa mente concebe entidades que encapsulam os fenômenos. Não concebemos as coisas como processos dependentes, embora possamos, racionalmente, compreender isso. Não pensamos no nosso computador como um conjunto de componentes pelos quais passa um fluxo de energia. Não vivenciamos a idéia de que a cada vez que usamos o computador, estamos consumindo estes mesmos componentes, cada uso é uma gota de destruição. Da mesma forma que cada respiração é um passo em direção à dissolução deste composto corpo e mente. Não concebendo a realidade da forma adequada, povoamos o existir de entidades que permanecem, resistem e subsistem aos fenômenos e compomos a dicotomia possuidores/possuídos. Ilusões possuindo ilusões.
Isto me parece ser, em essência, upādāna. E não há como qualquer felicidade real surgir disso.
Há um trecho do Ariyapariyesana Sutta (A Nobre Busca) que acho que, se for decorado, repetido e tiver o seu entendimento frequentemente burilado e aprofundado na mente, pode conduzir a uma compreensão bastante poderosa de upādāna. É o seguinte:

“Bhikkhus, existem esses dois tipos de busca: a busca nobre e a busca ignóbil. E o que é a busca ignóbil? Nesse caso, alguém que, estando ele mesmo sujeito ao nascimento, busca aquilo que também está sujeito ao nascimento; estando ele mesmo sujeito ao envelhecimento, busca aquilo que também está sujeito ao envelhecimento; estando ele mesmo sujeito à enfermidade, busca aquilo que também está sujeito à enfermidade; estando ele mesmo sujeito à morte, busca aquilo que também está sujeito à morte; estando ele mesmo sujeito à tristeza, busca aquilo que também está sujeito à tristeza; estando ele mesmo sujeito às contaminações, busca aquilo que também está sujeito às contaminações."

Fazer daquelas entidades concebidas, as bases e fontes da nossa felicidade, não pode dar certo...


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

nibbida Em Gotas Homeopáticas

Como somos sujeitos a condições!
Nosso humor é tão debilmente dependente!
O exercício constante da atenção (sati) nos habilita a pegar o EU no pulo!
Naquele contínuo de um humor e de repente: ploft! Algo surge e o EU muda!
A atenção, se estiver presente aí, vê bastante claramente a debilidade daquela noção de um EU existente, comandante, chefe de corpo e mente! Porque não escolhemos, então, "Agora eu ficarei contente! Agora triste! Agora mais ou menos! Agora Smurf!"
A cada vez que conseguimos flagrar a debilidade do ego, é como se tomássemos uma gotinha de desencanto.
E podemos rir!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

hoje eu acho engraçado...

Ouvir este áudio trouxe a lembrança da história que conto a seguir.
Foi a alguns anos atrás.
Convidado para uma comemoração (não lembro bem do quê) em um sítio ou chácara aqui na minha cidade. Na região são muito comuns estes imóveis usados para fins de semana, festas e tal.
O local ficava bem longe, lá no fim do nada de uma cidade que tem um grande quase nada em volta de um centro bem pequenininho.
Fomos lá. Eu, mulher e filhinho bebê. E a concunhada que sabia o caminho.
Buracos e lama, mato e boi, mais buraco, mais lama, passarinho mato e boi e chegamos.
Aquela gentarada animada. Familiares, amigos, conhecidos e conhecidos dos conhecidos. Música. Comida. Bebida. Jogos e diversões. O local tinha uma infraestrutura e tanto! Uma maravilha. Para quem gosta deste tipo de maravilha.
E eu lá, no meio de toda aquela alegria e diversão. Ansioso pela hora do "obrigado por ter vindo, até a próxima, tchau!"
Até que eu aguentei por um bom tempo daquela vez.
Mas consegui arrumar uma encrenca e, para mostrar pra eles como eu era um cara marrento, decidir ir embora! (como se todos que me conheciam esperassem outra coisa!)
Quer ir? Vai, ué! Mas deixa o carro que aqui parece que só tem dois horários de ônibus: um em que ele vem e outro em que ele vai. Com criança pequena não dá para ficar dependendo disso e nem vou encher o saco de ninguém por carona...!
Ah! É?!
É.
Bom, e agora? Encrenca arrumada e palavra dita, o que que o cavaleiro da triste figura podia fazer? Um camarada assim, de opinião, carioca e tal...
Olhei pro céu: nublado do jeito que eu gosto! Um ventinho fresco...
Então, tá! Fui!
Quando pus o pé na estrada, do lado de fora da porteira...
Antes disso eu havia considerado a idéia de esperar pelo ônibus, mas o risco de ficar ali até a hora de ver o pessoal passando, indo embora, foi uma hipótese que não me agradou.
Pondo os pés na estrada (e na lama), uma estrada e tanto, respirei fundo e uma sensação extremamente legal começou a surgir.
Não era o chutão no balde, nem sair, era uma coisa boa de deixar algo para trás, de abandonar uma situação, para mim desagradável, com tudo o que tinha nela. Sem levar nada. Um gozar da liberdade de ter pés. Um adios amigos maravilhoso!
Fui andando e andando. Estufando o peito. Ainda conseguia murchar a barriga mas já não havia muitos cabelos ao vento. E deixando tudo: a encrenca, a chatice, a raiva, até a vontade de ir embora. Era só o que eu queria, andar e desfrutar daquele momento de soltura de tudo. Eu e a estrada. E que todos fossem felizes.
Mas que não me chamassem para a festa.
Já envolvido com o budismo, foi de imediato que romantizei o momento...
'Deve ser esta a sensação de deixar a vida laica! A renúncia! Deixar a opressão do mundo!'
E seguia eu viajando.
E tempo e espaço para viajar não me faltaria. A solidão ampla e vasta, vasta e vasta. Mais ou menos meia hora de carro. A pé foram horas inteiras. Sem ter me preocupado em aprender o caminho, duas vezes fiquei meio preocupado com escolhas que tive que fazer. Mas não me perdi.
O que mais me marcou da experiência, além do que veio mais pra frente, foi o completo sossego de toda a aporrinhação que eu sentia. Tendo tomado atitude tão intempestiva, quando eu pus o pé na lama, pronto! Arrefeceu-se completamente o mal-estar, surgiu uma surpreendente alegria. E assim foi, lentamente, tranquilo e calmo, que cheguei no portão de casa.
E a vida voltou ao normal.
Até mais ou menos uns dez dias depois.
Uma dor tremenda me travou a perna esquerda, da junção da coxa com o quadril até a lateral do pé, perto do dedinho!
Putz, como doía aquilo!
Quase precisei de uma cadeira de rodas para ir ao ortopedista!
Diagnóstico: inflamação do nervo ciático. Fruto da combinação de um sedentarismo pétreo com um esforço intenso e repentino.
Além de pílulas, houve uma sequência de injeções tão doídas quanto a dor a ser curada. A primeira que tomei foi no glúteo direito e saí da farmácia mancando das duas pernas! Coisa antológica!
Mas como tudo na vida, passou. Não sem deixar consequências. Como tudo na vida.
O nervo nunca mais foi o mesmo, como eu também não. Mas enquanto ele me permitir o lótus completo, não fico tão triste.
Tenho a impressão de que meu índice de APM (asnidades por minuto) tem diminuído.
Outras festas vieram.
De algumas eu até gostei.
E em todas eu fiquei até o fim!
A dor ensina.
O prazer ensina.
Mas é a percepção e a aceitação da coexistência inevitável dos dois o que ensina mais.
Eu acho.

sábado, 7 de novembro de 2009

Adinavakatha

Dia desses eu escrevi: "uma importante causa das nossas tristezas pode ser não investigarmos apropriadamente nossas alegrias".
Ou mais ou menos isso.

Achei, então, que a frase passou bem um meu entendimento do Dhamma.

Hoje estava lendo o texto Meditation, de Ajahn Chah, (estou pensando seriamente em imprimir uma foto desse velhinho para por no meu altar...!) quando lá no final descobri que existe até uma expressão em pali para aquilo que eu tentei dizer!

Adinavakatha, nas palavras de Ajahn Chah, conforme minha leitura, é o refletir na imperfeição e limitação do mundo condicionado. Significa refletir sobre a felicidade ao invés de aceitá-la pelo seu valor aparente. (...) Quando a felicidade surgir, contemple-a bem até que suas desvantagens se tornem claras.

É claro, recomendo fortemente a leitura do texto, bem como de qualquer outro do Ajahn.

Não posso negar a alegria que senti ao ler estas palavras!!

:D

domingo, 1 de novembro de 2009

Ignorância Cultural

Hoje em dia é comum as religiões focarem bastante em aspectos culturais. Há bandas, grupos de dança, teatro, oficinas artísticas, viagens, passeios, enfim, atividades para todos os gostos a apetites.
Como quase tudo, há o lado bom.
Impregnar a vida com princípios espirituais com os quais nos identificamos é muito bom.
Eu acho.
Quanto mais fizermos com sentido espiritual, melhor. Até por que isto ajuda a corrigir o equívoco de que existam a 'vida' e a 'religião'.
Mas me parece que há o risco de que se fique também só no lado 'vida'. E aí, como com quase tudo, a ignorância prevalece.
O Caminho transforma-se numa grande festa como qualquer outra. Uma jornada de alegria e celebração, consumo e esgotamento, sede e ganância, competição e vaidade e mais um monte de substantivos.
E a religião seca desprovida de substância.
Resta a brincadeira superficial e imatura que conquista o volúvel sofredor que existe em nós.

Speech by ReadSpeaker