What is your language?

Bornes relacionados com Miniaturas

Buscando...?

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

resoluções

Sejamos todos bons discípulos, diligentes e disciplinados.
Honremos o Buddha, o Dhamma e o Sangha perante os nossos. Que nosso refúgio seja nossa vigilância e atenção conforme ensinado pelo Buddha. Que nos esforcemos para viver o Dhamma do Buddha a cada respiração. Que através da prática conheçamos a serenidade em meio à vida. Que possamos reagir de forma saudável e conducente à paz tanto às alegrias quanto às tristezas que virão. Que nos façamos aptos ao deleite que vem do conhecer o surgir e cessar dos fenômenos. Que não temamos a impermanência. Que possamos aceitar, sabiamente, a natureza insatisfatória da existência. Que possamos viver plenamente a realidade em seu completo vazio.
Que busquemos a paz que está além de qualquer início ou fim.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

diálogo impertinente

Qualquer semelhança com a realidade é devido ao fato de que o diálogo abaixo, em sua essência, aconteceu.
Recentemente.

- ...uns amigos do Mahayana questionam sempre...
- Sobre?
- Ah, eles tem uma postura crítica quanto a nós, theravadas... Dizem que somos preocupados apenas conosco...
- Como assim?
- Falam que buscamos apenas a nossa iluminação. Eles buscam a iluminação de todos...
- Hmm... E...?
- É chato isso... Fica uma sensação de "eles são OS BUDDHISTAS"!
- Bobagem... Esta questão toda tem um fundo histórico meio complexo que muitos não tem nem noção do que se trata. Só repetem o que ouvem...
- Pois é... Eles afirmam que tem uma mente ampla!
- Ah...
Pergunte o que eles fazem para que todos se iluminem... Eu acho que não é nada muito além do que fazemos.
-É...
- Nós fazemos o possível para que as pessoas tenham contato com o Buddhadhamma, sentamos e meditamos, nos esforçamos para sermos boas referências através da prática dos preceitos... Alguns de nós, e deles, se envolvem com trabalhos voluntários... Eu fico buscando uma diferença entre nós e não acho...
- É a questão da mente ampla que eles falam... A tal da bodhiccita.
- "O desejo que todos atinjam a iluminação"...
- É...
- E daí?
- Daí o que?
- Você deseja que todos atinjam a iluminação?
- Claro, ué?!
- Se este desejo é sinal de 'mente ampla', quem além de você pode dizer se a sua mente é ampla ou não?
- ...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

mensagem cifrada

No meu trabalho houve um concurso de textos mensagem-de-fim-de-ano.
Enviei o meu.
Não ganhei mas gostei do que escrevi. Até que não ficou ruim visto que foi composto dentro das regras de formatação exigidas. Achei uma razoável tentativa de falar do dhamma sem usar a palavra dhamma!

Se prendemos a respiração por alguns momentos, ocorre um desconforto. Tanto maior quanto for o tempo que tentarmos. Tentar parar os pensamentos também é frustrante. Tanto maior quanto a determinação que aplicarmos para fazê-lo.
Quando chega o fim de um ano é o início de outro. E celebramos! Festejamos! A mudança, o novo. Mas será que é realmente da mudança que gostamos? Ou será que a nossa verdadeira inspiração é a esperança de que aquilo que nos agrada continue da forma que está e que só mude o que queiramos? É como tentar segurar a respiração ou parar o pensamento.
A essência do existir é a transformação. Sem ela não há dia e noite, inspirar e expirar, sono e balada... Todos sabemos. Porém, parece que tentamos o tempo todo deter o movimento, acreditamos ter o poder de fazer com que, sempre, tudo seja da forma que queremos. E isso é tão frustrante quanto maior for o nosso empenho.
Quer dizer então que deveríamos desistir de tudo, sentar na calçada e ficar vendo a vida passar? Não planejar? Não almejar...? Não! A passividade inerte não é a proposta! Na verdade, uma coisa bem pouca, uma simples mudança de foco é, tenho a impressão, do que precisamos.
Não podermos controlar tudo não significa não podermos ser felizes! E, no final das contas, todos os nossos atos, desde o mero respirar, são com a motivação de sermos felizes. Talvez devêssemos valorizar mais o aprendizado e esquecer um pouco o desejo, o anseio, o domínio. O que precisamos é tentar abrir mão da aflição pelo controle, ou da ilusão do controle absoluto, e aprimorarmos a capacidade de perceber e aprender com a natureza, com a realidade, com a mudança. Aprender com as coisas conforme elas são ao invés da luta vã para fazer delas o que nunca serão. Abandonemos a ilusão de tornar a vida nossa prisioneira.
Neste ano que se inicia, poderíamos, antes de enumerar nossos desejos, pensar no como e no que precisamos aprender para realmente apreciar e, se possível, aproveitar todas as mudanças que ocorrerão, queiramos ou não. Talvez devêssemos almejar estar plenamente abertos para as possibilidades, atentos para as tendências e tranquilos para as transformações. Não tentemos aprisionar o novo ano nas gaiolas dos nossos desejos míopes. Vamos contemplar o surgir do ano novo. E nascermos junto com ele. Sensíveis para as oportunidades que, invariavelmente, surgem. Enxergar-nos como parte deste fluir incessante que é a vida. Mutável, impermanente, impossível de deter. Nova a cada segundo. No sentido mais profundo: simples mudança.
Um feliz ano novo para nós. Façamos-nos aptos a vivenciar a mudança. A cada momento!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

caminhando e aprendendo (ou "Assim Falou Rocky Balboa")

no prazer que substitui o sofrimento não há paz
não há paz na alegria que sufoca a dor
nem na calma que sucede a tempestade há a paz

não há paz no querer
não há paz no anseio
pelo que quer que seja
quando há desejo
não há paz

no tempo que tudo apaga não há paz
no esquecimento não há
no acúmulo não há paz
nem há na posse

na atenção esperançosa não há paz
na vigilância que almeja não há paz
não há paz que surgindo de algo mais, seja verdadeira

***

Só a prática e o esforço constantes habilitam a mente a perceber as sutis armadilhas da ilusão e do apego. Tem que sentar e respirar atentamente sabe-se lá quantas vezes e quantas horas para que nos enfrentemos em combate. E quantos rounds serão necessários? Quantas quedas, quantas contagens serão abertas não importa, desde que nos levantemos a cada vez conhecendo melhor o único oponente que vale a vitória.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Espelho, espelho meu...

Está tão claro quanto mais negro fica o horizonte que compartilhar um mundo que estimula, fomenta, cultiva, explora e se sustenta sobre desejos sensoriais é manter uma fonte sempre renovável de desgraças. Das mais variadas dimensões e proporções.
Mas então, por que nós nos ressentimos tanto de mexer com os nossos desejos? Por que sempre que o Buddha fala que o desejo (ta) precisa ser eliminado nós damos uma mexida no assento, coçamos a cabeça, olhamos para o lado...?
***
Chega a ser doloroso observar pessoas que acreditam que podem mudar outras pessoas. Podem passar uma vida nesta ilusão.
Criam uma imagem baseada nos próprios valores, ou pontos de vista, ou na própria auto imagem, ou até naquilo que gostariam de ser mas não conseguem, e passam a desejar que um outro torne-se isso! E eis que o tormento se desenrola, às vezes, ou quase sempre, maior para quem deseja!
É tão impossível mudar o outro quanto necessário, apesar de difícil, mudar a nós mesmos. Só nos resta esperar que um bom exemplo surta efeito...

***
Tão doloroso quanto, é observar aqueles que se dizem 'donos do seu destino'. Que afirmam, ou acreditam, que podem tudo! Vencer, vencer, vencer... Igual ao flamengo! Aí, é constrangedor observar suas expressões diante das vicissitudes e descontrole da vida...
A única forma de nos tornarmos donos do nosso destino é pela sábia desistência de possuir um destino.

sábado, 5 de dezembro de 2009

hoje eu acho engraçado II

Eu não sei nadar.
Mas sempre fui meio abusado.
Certa vez, quando moleque, estava numa praia de mar agitado, ondas e areia revolta. Fui indo, indo, indo até que a água bateu no pescoço. Aí vi que precisava voltar.
Mas a coisa não seria fácil.
Naquela altura, as puxadas das ondas eram muito fortes, as ondas muito frequentes, na areia surgiam muitos buracos. Era por o pé e aquilo logo afundava e água pelo nariz, boca e aquele desespero! Se tentasse dar algumas braçadas iria piorar por que as ondas me puxariam mais rápido. Tinha que seguir pisando aquele chão movediço. Era uma sensação terrível aquela de buscar firmeza, sustentação e sentir o chão se desfazendo sob os pés! Era um "ah! agora vai!... não foi!!!!" contínuo! O instinto desesperado pela sobrevivência. Eu achei que iria morrer, mesmo.
Sinceramente, não sei quanto durou... Segundos, minutos... Sei que consegui sair da água ofegante, com a barriga cheia, nariz e olhos congestionados.
Mas é uma sensação que ilustra bem a percepção que se tem do mundo quando se olha bem de perto com alguma atenção e vigilância (satisanpajanna). A mente procura assentar aquela identidade concebida do eu em alguma base, que sempre se desfaz sob ela. Um pensamento, uma sensação, uma idéia... Vistos bem de perto se desfazem e o EU pisa com ansiedade à frente, em mais um passo, na sede de existir, numa caminhada sem fim e com água sempre no pescoço.

Speech by ReadSpeaker