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Buscando...?

sexta-feira, 25 de junho de 2010

o s do samadhi

Foi só um exemplo, tentativa de metaforizar a forma como eu venho aprendendo a meditação, o cultivo da mente/coração. Mas um kalyanamitta gostou e sugeriu que eu escrevesse mais sobre o assunto.
Vamos lá!
No início da minha prática, meditação era uma coisa! Era um evento assim, um momento especial. Sentava ali com aquela missão: meditar. Um compromisso. Como estudar para uma prova... Ou ir para a escola. Ou qualquer outra das coisas pelas quais "momentificamos" os nossos dias. Fotografamos, pintamos as cenas da nossa realidade e entramos numa. Depois pulamos para outra e assim seguimos pelos fotogramas compondo nossas existências. Unindo um ao outro só com o ilusionista poder do "Eu estava lá, agora eu estou aqui. Eu fiz isso, depois eu farei aquilo..."
Mas o buddhadhamma vai revelando.
Caminhando pelo Nobre Caminho é que a gente vai juntando as imagens. As fronteiras vão se tornando mais e mais estorvantes. A luz do samadhi se fortalece pouco a pouco e vai iluminando a inteireza da vida que as sombras do ego encobrem. A disciplina  e a vigilância nos impedem de cochilar entre um quadro e outro, a resolução das imagens que captamos são ampliadas e abandonamos pouco a pouco o modo de viver entre intervalos. Até o dia em que não houver mais o que juntar!
Mas a metáfora foi outra!
Foi o seguinte:
Achei que o Ayrton Senna, que eu fui conhecer melhor só depois da tragédia, que antes era só o cara que tinha a mania de carregar aquela bandeirinha quase todo domingo, tem algo a ensinar sobre meditação.
É triste essa coisa de não atentar aos vivos.
Ainda bem que sempre bradei aos ouvidos interessados minha intensa reverência intelectual pelo Saramago!
Depois da morte do campeão eu fui levado pela enxorrada de fatos e relatos e o que mais me chamava a atenção era a idéia que eu apreendia da forma pela qual ele vivia o esporte que escolheu. Uma imagem forte que eu compus foi a do cara  que se dedicava e amava tanto o que fazia que não via diferença entre treinos e corridas, era só o pilotar! Todo o tempo, sentou no cockpit, é pilotar!  O mesmo fascínio e prazer, fosse competindo, fosse reconhecendo pista, fosse testando carro! Enxergo tanta paixão na maneira como ele construia sua carreira, trabalhava e até pensava sua arte que minha admiração cresceu e ficou. Me encantei muito mais com esta versão, com este espírito, do que com o dominical portador da bandeira nacional e grande vencedor. E sempre que penso no Senna, é isso que em mim evoca: dedicação, esforço, diligência. Que extrapolam para além do exercício, do aparente objeto. Que tomam conta da vida. Sem diferir.
E foi esta, literalmente, a metáfora que usei para descrever tudo o que disse antes.
E, claro, fica aqui uma lembrança e mesmo homenagem de um blog buddhista ao grande campeão que, além de tudo, inspira algo em  minha vida espiritual.
Pã-pã-pããã...  Pã-pã-pããã... 

quinta-feira, 24 de junho de 2010

os urubus

Ele me disse que estava de saco cheio! Até do buddhismo!
E eu entendi. 
Porque a vida é... Sei lá! Só sei que ela está com a razão. 
Lembrei do dia em que os urubus me trouxeram a paz.
Estava indo trabalhar, com a cabeça pipocando de problemas. Proliferação de pensamentos sobre a situação: como as coisas estão, como poderiam ficar, como eu temia que ficassem, como eu gostaria que fosse... "O que aconteceria se fosse assim?... E se se eu fizesse isso?... E se tivesse feito?... E se acontecesse...? Se eu não fosse...!"
E etc. Como todo mundo sabe como é...
Ouvia The Jesus & Mary Chain, uma banda da minha adolescência e pensava. Pensava muito...
Na beira da estrada apareceu uma revoada de urubus. Daquele jeito de quando descobrem carniça. E me trouxeram de volta à lucidez! 
A morte! A poderosa consciência da morte!
Nada, nenhuma força no mundo vai impedir que isso termine! Não importa quanto eu pense, pondere, especule e me castigue, isso passa! E este corpo vira, se não literalmente, comida de urubus, certamente, comida para urubus! E pensei se estava passando meus impermanentes momentos de uma forma útil, hábil. Que bem havia em tanto pensamento...
Tomei uma consciência muito agradável ali de como vitalizamos coisas com base apenas em fantasias e expectativas. Enquanto morremos, perdemos muito tempo de vida.
Abaixei o som, inclusive dos pensamentos, e segui o rumo que me cabia seguir naquele momento. 
Respirei consciente de que cada respiração me levava.
Grato aos urubus.

terça-feira, 8 de junho de 2010

relatividade, baladas e sementes

Trabalho com uma rapaziada bem legal. 
Tem uns corôas de mim para cima também, mas a maioria ainda não chegou nos trinta.
E a gente conversa.
Dia desses chegaram do refeitório me intimando: "Jorjão (que é a versão deles de mim) o que que cê andou falando na cabeça do fulano (um dos moleques)?" E eu: "Eu!? Por quê?!" E eles: "O cara tá lá com uns papos loucos de que o Schumacher (o piloto) está envelhecendo mais devagar que a mulher dele!!" E eu demorei um pouco para atinar. Fiquei com a boca aberta um tempo, com uma cara de idiota bem minha  até lembrar de um papo que tive com o tal carinha sobre relatividade!
Ciência é um assunto  do qual eu gosto e a gente teve lá um  papo, um dia, e conversamos sobre os efeitos da velocidade sobre o tempo e tal de acordo com as idéias do Einstein (E = m.c²). Pois acho que ele gostou de saber que, embora infinitesimalmente irrisório, o tempo passa mais devagar para o Schumacher quando ele está lá nos seus treinos e corridas a centenas de quilômetros por hora.
Bom, tendo lembrado, eu expliquei a tal conversa para os inquisidores e eles ficaram intrigados também! Os meninos, na maior parte das vezes, me dão ouvidos, principalmente nesses assuntos menos populares (acho que me tem como uma espécie de Tio Google), mas teve lá um dos coroáveis como eu que saiu com um "É, essas coisas são interessantes mas não para nós, né? Isso é útil para os inventores, cientistas... Para piões como a gente não faz diferença essas teorias..."
Pois bem, a molecada de hoje abusa. Bebe demais, baladeia demais, se arrisca demais... E eu estava conversando com um em outro dia sobre como as coisas são e como elas parecem ser. Sobre como parece que a gente precisa de diversão, distração, prazeres o tempo inteiro e todo o tempo mas que, na verdade, pode não ser assim. E foi com um dos inquisidores de então!
Eu fiz o link óbvio naquele momento: "Lembra aquele dia em que conversávamos sobre o modo como as coisas são e como parecem ser?" E ele: "Ã-hã." E eu: "Então.  Saber da teoria da relatividade nos mostra como que,  se mesmo em questões tão concretas como essa do tempo e espaço nosso senso comum nos engana tão grandiosamente, imagina para aquelas mais sutis da mente, comportamento humano e coisa e tal..." E o menino ficou lá uns três segundos pensando naquilo.
Nenhum conhecimento é impróprio viu, ô corôa!? O que precisamos, às vezes, é buscar uma aplicação prática para ele.
Sendo buddhista, que esta aplicação seja para a cessação de dukkha é o ideal.

terça-feira, 1 de junho de 2010

presença de anicca

"A única certeza nesta vida é a mudança!" Filosofávamos numa conversa...
Meu camarada contava como eram os planos de seu pai: comprar um grande terreno, construir casas para os filhos e ter todos juntos. Mantendo a tradição de festas e reuniões familiares animadas e calorosas.
O pai separou-se da mãe e mora na Bahia. Os irmãos todos estão também quilometricamente separados.
"O que nos faz pensar que será diferente conosco?" Falávamos... 
"Quantos planos já tivemos que refazer, adaptar, abandonar...?"
"Vou construindo a minha casa já morando dentro dela. Resultado: Um cômodo vai ficando melhor que o outro! Quando termina um, o outro já precisa de reforma! E as coisas quase nunca saem como planejado... Há sempre uma coisinha..."
"Será que a vida dos famosos e endinheirados é diferente?"
"Acho que não... Eles tem que se virar contra outros tipos de mudança, mas o tormento é o mesmo (talvez pior): fazer plásticas, academias, lutar com a mídia... Tem sempre gente mais bonita, mais 'talentosa', mais escandalosa surgindo. O público consome vorazmente!"
"E o cachê cai!"
Quanto maior a ilusão de controle, e dinheiro e fama parece que aumentam consideravelmente esta ilusão, maior o tormento a medida que os castelos vão caindo... Ou seja, o problema não está lá fora, nas condições externas, como sempre...
Havíamos começado este colóquio falando da pressa do tempo...
"Olha só, já estamos no meio de mais um ano!"
"Percebe como as coisas vão perdendo a graça? As datas, as copas, os aniversários..."
"De certo modo é bom... Vamos, probabilisticamente ao menos, chegando perto da morte, é bom que desencantemos dessas coisas todas. É tudo uma repetição só..."
"A graça vai sendo a própria mudança! O interessante passa a ser só a percepção das ilusões, das grandes bobagens que podem ser as vidas..."
E fomos dormir pra trabalhar no outro dia.


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