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Buscando...?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

padrinho mágico


Ele veio me perguntar sobre o seu casamento, que está próximo, naquele tom de brincadeira que usamos quando gostaríamos de falar sério: "Todo mundo me enchendo o saco... Enchendo minha cabeça contra o casamento...Você vai dar o veredicto! É sua a palavra final..."
Eu, num dia inspirado, imerso em filosofâncias  e psicologismos além da média dos últimos trinta e alguns anos, dei-lhe uma resposta que foi mais ou menos assim:
Casamento é coisa para gente grande e parece que cada vez menos queremos crescer. Temos incontáveis brinquedos e brincadeiras, agora. Conseguimos fazer do mundo o nosso parquinho. Todos querem brincar pelo infinito a fora. Mas, apesar de todo silicone, botox e suplemento alimentar, apesar de toda velocidade de conexão e ausência de fios que conquistamos, apesar de conseguirmos fazer parte da maior Turma do Bairro de todos os tempos via orkuts e facebooks, continuamos a envelhecer e morrer.  No mesmo ritmo de sempre. Apesar da variedade de brincadeiras, todas enjoam. Todos os brinquedos, se não quebram, envelhecem ou entediam. Todos os nossos mimos de crianças ricas estragam, droga!
O casamento é um momento complicado porque parece ser o chamado da mãe (ou do pai!) para entrarmos. É o início da noite mas estávamos na melhor parte da brincadeira. Começamos a ver o sol se por e sentimos aquele pavor: "está acabando..." Temos a opção, que cada vez mais parecemos fazer, de fingir que não ouvimos  a mãe natureza e continuarmos brincando pela noite. Mas é perigoso! E esta noite nunca mais amanhece. Só há luzes artificiais até o fim.
Temer os fatos da vida e encobri-los, não ver o envelhecer principalmente, é a nossa vida hoje (mais do que nunca?). E acabamos negando quase tudo o que envolve o processo, especialmente o amadurecimento. (Lembrei agora, enquanto escrevo, do episódio Miri, acho que era esse o nome, de um Jornada Nas Estrelas...)
Alguém diz: "E você acha que ele está pronto para isso?" E eu: "Quem tem que saber disso é ele. O que posso dizer é que ele precisa de muita maturidade para lidar com o moleque imortal se não quiser uma vida de brinquedo daqui para frente..."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

mentira (de novo! fazer o quê?...)

Terminei de ler o livro "O  Que Nos Faz Felizes" do psicólogo americano Daniel Gilbert (Editora Campus/Elsevier). Resumindo, o livro fala sobre como nos iludimos na busca pela felicidade devido às falhas de percepção que temos.
Lê-se na página 149:

Se tivéssemos a experiência do mundo exatamente como ele é, cairíamos numa depressão tão grande que não conseguiríamos levantar da cama pela manhã, ficaríamos tão desiludidos que seria difícil achar nossos chinelos. É possível que tenhamos uma visão cor-de-rosa do mundo, mas essa visão nem é opaca nem é muito clara. Não é opaca porque precisamos ver o mundo para participar dele, para pilotar helicópteros, fazer a colheita do milho, trocar as fraldas dos bebês e todas as outras coisas que os mamíferos precisam fazer na luta pela sobrevivência. Mas também não pode ser muito clara, pois precisamos de um pouco de rosa para projetar os helicópteros ("Tenho certeza de que esse negócio vai voar"), plantar o milho ("A safra deste ano será ótima") e ter os bebês ("Que coisinha mais linda!"). Não podemos abrir mão da realidade, mas também não podemos abrir mão da ilusão. Cada uma tem seu propósito, e cada uma impõe um limite ao domínio do outra. Assim, nossa experiência do mundo resulta do compromisso fechado entre essas duas fortes concorrentes.

A ideia é desenvolvida em todo o livro mas na página 154 há o seguinte:


No final das contas, o cérebro e o olho talvez tenham uma relação contratual na qual o cérebro concorda em acreditar no que os olhos vêem, mas, por sua vez, o olho concorda em ver aquilo que o cérebro quer.


Quem tem passado por aqui deve imaginar que estes foram meus trechos preferidos do livro. Está certo. Foram. Acho legal que as disciplinas que estudam a mente acabem sempre esbarrando nalgumas verdades buddhistas.

Mas o autor para por aí.
Terminei o livro com a sensação de que sua proposta é que cheguemos a uma resignação com esta nossa, segundo ele, imutável condição de simbiose com a ilusão. Temos que aceitar que entrar em acordo com a ilusão é a forma de ser feliz e, todas as vezes que nos desiludirmos em função desta inescapável necessidade, podemos extrair algum consolo do prazer de saber que é assim que as coisas são. Ou seja, estou perdido, mas pelo menos eu sei que estou perdido e este saber é fantástico!
E há quem considere o buddhismo uma visão pessimista da vida!
Entendo o buddhismo como sendo, fundamentalmente, uma doutrina de transformação pela percepção/conhecimento. Afiamos a mente tanto em termos perceptivos quanto cognitivos através do cultivo da atenção reflexiva/vigilante.
Assim, onde para o autor, começa o Buddha.
A felicidade de saber que não há felicidade no mundo  não surge de saber que  não há felicidade! 
Há o nibbana.
O nibbana declarado pelo Buddha é um objeto da mente. E segundo o Venerável Ajahn Buddhadasa, muito mais acessível do que séculos de elucubrações metafísicas acabaram ocultando! O Buddha, quando nos diz que ao continuarmos buscando a felicidade da forma que buscamos só vamos ter problemas, afirma como 'opção' a felicidade real . Saber que não há felicidade no mundo é apenas a primeira parada rumo a felicidade. 
Deste ponto deveríamos levantar a cabeça e mirar os olhos na direção que o dhamma aponta!
Eis o ato que requer um esforço colossal da maioria dos humanos: considerar a possibilidade de um tipo de felicidade que não seja nos moldes do 'mundo'. Um tipo de felicidade que não dependa de ganhos parece até assustador para nós! Mesmo quando nos 'espiritualizamos' continuamos a conceber a felicidade da forma que sabemos: paraísos, sensações, lugares maravilhosos! Nossa versão de felicidade espiritual não consegue ser mais do que uma hipermundanidade. Continuando a nossa busca por felicidade nos mesmos moldes de sempre, a prática buddhista que para mim é uma espécie de desaprender os caminhos do mundo, em especial aqueles para a felicidade, é corrompida e rebaixada a um paliativo para a tristeza que resurge, para a frustração que resiste, para a insatisfatoriedade que permanece oculta da mente e ativa, como sempre foi, no coração. 
Um buddhismo para uso tópico.
Eu acho que temos que fazer uma escolha: ou ficamos na nossa versão do caminho do meio que é um vagar bobo e assustado entre aquilo que o dhamma revela e a nossa zona de conforto que sabemos ilusória ou damos o passo no Caminho do Meio do Buddha que requer alguma coragem para, ao menos, procurar por uma felicidade que não dependa de resignação com a natureza irremediavelmente ilusória do mundo.

domingo, 8 de agosto de 2010

presente


"...aí, o tio da van (perua escolar), pai, falou que tem umas bebidas que são docinhas..."
"Mas esse Tio Zé, hein meu?!"
"Mas eu disse prá ele que eu nunca vou beber, pai!!"
"É, filho, tem muita água pela frente ainda! Vamos ver, né?"
"...A Aninha disse que o pai dela bebe..."
"É, filho, não é o fim do mundo... Cê sabe, né? O Vô, por exemplo, toma lá as cervejinhas dele... Não é porque o pai não bebe que você deve achar que quem bebe é bandido, viu filho?! Beber é um costume, até certo ponto, normal na nossa sociedade. O exagero e a irresponsabilidade é que são problemas..."
"Tipo beber e dirigir, né pai?"
"Isso! Isso mesmo! Você sabe por que o pai não bebe?"
"Hmmm... Cê não gosta...?"'
"É, nunca achei muito gostoso não... Mas o motivo mesmo é outro. O lance é o seguinte: você sabe que o pai medita, né? E para que o pai medita?"
"Para ficar mais calmo...?"
"He, he... E para ficar mais lúcido, sabe? Ver as coisas com mais clareza na mente... Ter uma visão mais clara do mundo... E o que a bebida faz?"
"Deixa bêbado!"
"E um bêbado não vê as coisas com muita clareza, né?"
"He, he..."
"Então, como que eu vou fazer uma coisa e mais outra que é o oposto daquela?"
"Que nem fazer um muro num dia e derrubar no outro..."
"Isso! Isso mesmo! Entendeu, né?"
"Entendi... Sabe pai, por isso que eu gosto de conversar com você! Você explica bem as coisas... Fala de uma coisa aí põe outra no meio que explica a outra coisa... Fica melhor de entender!"
"Que bom, filho! Eu também gosto muito de conversar com você! O pai gosta de explicar porque gosta de entender. A gente precisa ser assim: aprofundar-se nas coisas, esclarecer... Quem fica na superfície é bolha."
"He, he, he... É pai! É isso mesmo!"


Desafio a um eventual pai que ler este texto a dizer que ganhou presente melhor!!

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