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Buscando...?

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

uma dose de Bukowski e muito dhamma

paro
não importa o quanto corram, eu vou devagar
e paro

ouço
não importa o quanto chamem, eu ouço

não importa quantos sabores criem
quantos modelos
quantos recursos
quantos aplicativos
de quantas necessidades precisem

não importa quantas festas
quantos shows
quantos bares
quantos assuntos
quanto barulho
quanta tv

eu não ligo
eu não vou
me basta o bastante

não importa quanta realidade inventem
quantos jogos
quantos programas
quanta disputa
quanto celebrem
quanta celebridade
eu ignoro

não importa quanto tocam
quanto compoem
quanto vibram
quanto pulam
quanto gritam
quanto cantem
eu silencio

e eu recuso os panetones de setembro
os ovos de páscoa de fevereiro
as canjicas de abril
e as micaretas todas

os amistosos
os preparativos
eu recuso

eu me enraízo
e abdico da razão
eu não penso enquanto caminho
eu sinto meus pés no chão

meditação, meditação...
quase ninguém percebe que
O Buddha
ao despertar
tocou a terra

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

cinco agregados

Os nomes são forminhas nas quais congelamos os fenômenos no tempo e no espaço. 
Como fazemos com os Cinco Agregados. 
O Buddha nos diz que somos meramente um conjunto de cinco: corpo, sensações/sentimentos, formações mentais/pensamentos, percepções e consciência. Não é forte o entendimento de que então, oras, podemos ser divididos nessas cinco 'coisas'? Nos imaginamos como um constructo de onde podem ser tirados, um a um, estes componentes.
Mas acho que não é bem assim.
A mente agarra qualquer fenômeno do qual se conscientize. E nomeia, congela e separa: isto, aquilo, aquele, aquela lá... Assim é como faz com os agregados que o Buddha listou. A qualquer cousa que surja para a mente e que possamos identificar como 'meu/eu/meu eu', eis um agregado embalado em upadana. Por exemplo: me 'identifíxo' com(o) meu corpo, meu sentimento/sensação, meus pensamentos, minha percepção, minha consciência. A cada vez que um (ou mais) surge, congelamos e compomos um eu com base nisso. E se há tal objeto precisa haver um eu possuidor/observador. É assim. Eis eu.
Eu acho que o que o Buddha quis dizer foi que estes fenômenos transitórios e compostos, como quase todo o resto, que ele chamou agregados, são por onde nos vemos como seres. Não é que sejam pedaços do ser. São sim eventos que a mente pontua e discerne no processo de existir. Cenas da peça que encenamos e que chamamos minha vida.
O Buddha declara cinco agregados. Eu não consigo ver mais nenhum. Se alguém encontrar, tudo bem. Certamente será mais um objeto "eusificado/eusificante".
Então, o caminho do despertar não é o de separar estes agregados mais do que o de perceber como a mente interpreta estas diversas formas de engendramento do eu, do mundo. É perceber como se dá a construção de um personagem com base nestes fenômenos distintos e identificáveis no contínuo do existir. É deixar a mente fazer o trabalho dela, que é conhecer. Este é o objetivo da meditação. Porque existe a ignorância que impede a mente de experienciar os agregados tal como são. Porque encapsulamos as coisas, congelamos e separamos. É um ciclo, mesmo. Repetitivo. Não é só o meu texto que é tosco. É avijja que é assim! Seguimos congelando repetidamente e nos mantendo cegos para o fato de que tudo é um ir vertiginosamente dinâmico e sem identifixidade.
E por conta disso, talvez a pergunta surja: mas quem medita?
Estritamente falando, ninguém. Mas não gosto de acabar com declarações pseudoprofundas e repetitivas.
Não há um que medite.
Começa lá atrás, com uma tomada de consciência de que algo não está bem. Achamos que há um eu que sente, tudo bem. Aí conhecemos o ensinamento do Desperto, do Buddha. Começamos a meditar. Achamos que "eu" meditamos. Tudo bem. Estudamos, entre outras coisas, os Cinco Agregados. Achamos que há um eu composto pelos Cinco. Tudo bem. Se continuamos a meditar e estudar, poderemos experienciar, vez ou outra e definitivamente todo o descrito até aqui livre de uma falsa terceira pessoa, que para nós sempre foi primeira: o eu. E revelarse-a, então, só o acontecendo: inspira, expira; tomada de consciência; inspira, expira. Sem primeira pessoa, nem segunda, nem terceira. A experiência acontecendo e absolutamente impossível de ser capturada e posta na forminha.
Tudo bem.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

dukkhinha

"O ano que vem vai ser uma chatice...!"
"Que isso, filho!? Por quê?"
"Ah, o Huguinho vai voltar a morar com o pai dele e talvez mudar de escola... O Luizinho vai para a turma da manhã..."
"E daí...!?"
"E daí, pai!? Eles são meus melhores amigos!!"
"Ah, tá...! Vai ter saudade, né?"
"Lógico!"
"Antes de você conhecer, eles já eram seus melhores amigos?"
"Claro que não, né pai!? Dãaa...!"
"Então, com a saudade não há muito o que fazer... Mas há um monte de melhores amigos que você ainda não conhece por aí...!"

***

Podemos passar a vida sem perceber isso: julgamos o futuro sempre com base no como estamos agora.

domingo, 7 de novembro de 2010

house X a mente quieta, a espinha ereta e o coração

Acho que é do funcionamento da mente esta aversão pela passividade. A qualquer estímulo a mente reage querendo algo mais do que aquilo que há.
Começar a entender que o fruto do cultivo da mente ensinado pelo Buddha é resultado de observar as coisas serem como são é algo que, paradoxo talvez, exige uma dose cavalar de esforço e boa vontade. Queremos, lá no íntimo, que a observação resolva para nós! Mesmo no estado de observação subsiste a natureza de querer que algo aconteça. Mas o Buddha ensina que nada vai acontecer antes que suas condições estejam presentes. Muitas fora de nosso controle. E uma delas a passividade. Mas aceitar isso chega a doer. E essa dor é mais uma coisa a observar. Assim como o é o desejo de que a dor passe.
O primeiro episódio da sexta temporada de House MD, chama-se Derrotado, é a ilustração de um aspecto disso. Permanecer na derrota até que se aprenda algo ao invés da busca frenética pela compensação da vitória. O poder da desistência. Porque não é hábil vencer o tempo todo. Além de não ser possível.
Ouvi de quem entende do assunto que ninguém subjuga um cavalo. Não ao menos quem aprecia ter um cavalo ao invés de um animal destruído. É preciso o entendimento. Um diálogo humilde deve ser estabelecido entre montador e montaria para que ambos se reconheçam e se aceitem. Só aí o cavalgar surge.
Temos que, humildemente, nos entender com as condições que nos mantém aqui. Compreender pela mera observação depende de verdadeiramente acolher àquilo que é tal como é. Parece que não há como ser de outra forma, não de um modo real, ao menos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

vencer

No satipatthana sutta o Buddha nos ensina a prática integral. Sobre tudo a faculdade de contemplação e reflexão pode ser aplicada e gerar conhecimento. Aquele conhecimento que nos levará ao Despertar.
O que eu tento aprender da contemplação das últimas eleições? Porque eu quis evitar, mas não consegui, me restou refletir... Da reflexão, até gerei esperanças.
Vimos que condenar a mentira e mentir, condenar a dubiedade e ser dúbio, condenar a vacilação e vacilar, a maquinação e maquinar, a censura e censurar, o disfarce e disfarçar, ou seja, tornar-se aquilo que se combate não levou a nada. Infelizmente? Em um sentido não há como saber. Mas felizmente se isto servir para cada um de nós, do lado de cá, a perceber que ser aquilo que se diz é o que devemos tentar. Pôr nossas convicções a frente de nossas metas. Princípios, uma questão simples de ter princípios e vivê-los, custe o que custar.
Pode ser que os motivos que listei não determinaram a vitória nem a derrota... Mas é uma forma de enxergar o fato que me é mais útil que nutrir qualquer esperança. A não ser aquela em relação a mim mesmo...

Speech by ReadSpeaker