What is your language?

Bornes relacionados com Miniaturas

Buscando...?

sábado, 20 de agosto de 2011

espaço

vai haver um dia em que surgirá espaço
enquanto caminha
enquanto trabalha
enquanto dirige
enquanto
sem que soubesse
surgirá espaço

poderá ser
que enquanto caminha
haverá espaço para que o que vê
e goste ou não, passe
poderá ser
que enquanto trabalha haverá espaço para que o que surja, cesse
que enquanto dirige haverá espaço para que ultrapassem e sigam

sem que espere ou queira

o espaço surgirá
haverá esse dia

mas não anseie por ele
não conte as horas
nem as semanas
nem meses ou anos
apenas siga respirando
sem esquecer
sem contar nem mesmo as respirações além do que for necessário para parar de contar

e então
depois de surgido
e conhecido o espaço
vai saber:
surgiu
e há
e é assim
e foi por aquilo

e haverá espaço
para o espaço
surgir

sábado, 13 de agosto de 2011

eu acredito - 1

quando um ser nasce, eu acredito que sua mente (ou parte dela, não sei bem) não surgiu com aquele corpo. acredito que mente é mente e matéria é matéria. duas naturezas distintas. e acredito nisso porque o Buddha assim ensinou, ao que parece. é algo em que confio. porque o Buddha, e isso é uma coisa que eu sei, foi muito preciso e acertou em muitas coisas, Suas instruções dão resultado, Sua teoria é extremamente coerente, Seu Caminho não me decepciona. quanto mais eu me aprofundo e pratico, mais desejo me aprofundar e praticar. então, minha experiência pessoal me garante este ato de fé sem problema. 
porém, eu mantenho esta crença num compartimento separado. ela não é o que define e nem sustenta minha prática. 
quando acreditamos que a mente segue num processo de condicionamento de um novo ser após a morte física, isto implica na aceitação da doutrina do kamma como definidor de alguns aspectos da vida daquele novo ser: méritos definem coisas boas, deméritos coisas ruins. doutrina que o Buddha declarou estar além da compreensão intelectual. e esta, sendo uma crença, não imediatamente verificável por experiência, tem um caráter dúbio. por exemplo: um buddhista como eu crê que está praticando o dhamma libertador do Buddha porque assim seu kamma o conduziu, ou seja, as ações passadas condicionadas pelas intenções deste mesmo contínuo mental frutificaram agora para que tal contato com o Buddhadhamma ocorresse, ou se repetisse, acontecimento digno de regozijo e alegria, um fator motivador. mas o mesmo raciocínio pode, em momentos em que outros fatores desta vida condicionam um estado mental menos animado, circunstâncias que, sabemos, não são raras, levar a pensar que os méritos não foram tantos assim, pois veja quão difícil é a prática, quão desprezível eu sou, ou o quanto minha vida é impulsionada por necessidades e tão pouco por escolhas...!  e, num movimento vicioso, deixar claro para nossa mente obscurecida como será difícil acumular os méritos necessários para um bom nascimento ou despertar futuro! por essas, mantenho a crença no seu devido lugar.
e é no próprio Buddhadhamma que baseio este meu caminhar.
Ajahn Buddhadasa ensina que há três tipos de nascimento elucidados pelo Buddha: o convencional, aquele que todos conhecemos, o nascimento através dos órgãos dos sentidos que ocorre a cada contato estabelecido entre olhos, ouvidos, pele, etc. e seus respectivos objetos e o nascimento mental que ocorre a cada vez que a idéia de eu e meu surge na mente. e é a compreensão destes dois últimos nascimentos que é relevante para obter o resultado da prática do Caminho, a saber, o cessar de dukkha, pois nada mais que dukkha e o fim de dukkha foi o que o Buddha ensinou.
a compreensão destes dois já é bastante a se fazer, mas é a compreensão do que está aqui, ocorrendo agora, é só uma questão de vir e ver. 
posso, assim, deixar a minha crença lá, nem pensar muito nela.
o nascimento que me interessa é este que ocorre agora.
a continuar, um dia...

domingo, 7 de agosto de 2011

sem remédio

eu sabia dos seus problemas emocionais e/ou mentais já havia algum tempo. a gente sempre sabe dos problemas dos outros. raramente sabemos quando alguém faz o bem ou conquista algo bom ou tem algum outro sucesso na vida.
estavam sentados na salinha do café quando cheguei e conversavam sobre os problemas do filho de uma outra pessoa, problemas mentais semelhantes. e a conversa indo e disse:
"mas você está bem agora! o que você tem feito?"
querendo, claro, alguma ajuda para o filho, cujo problema parece que se agrava, querendo nome de remédio ou de médico ou do que pudesse aliviar, como fazemos quando estamos chegando perto do fim da linha. e a resposta, que me levou para dentro da conversa, foi:
"olha, com o que eu mais me dei bem foi com meditação!"
"qual medicação!?"
"meditação. me dei bem com a meditação!"
"ah!"
e eu entrei...
"que interessante!"
e falou sobre como a meditação ajudou e eu disse algumas coisas a respeito e a pessoa interessada não se interessou muito mais e foram precisando voltar para o trabalho e acabamos ficando só nós dois, os meditadores, conversando por mais um tempo.
fiquei então sabendo da gravidade do problema pelo qual passara, que envolvia alucinções visuais e auditivas, bipolaridade e desorientação temporal. não disse qual o diagnóstico mas me pareceu bastante grave. conheceu a meditação via um curso da turma do maharish maheshi yogui, acho que é assim que escreve.
mas o mais interessante para mim é que as coisas começaram realmente a lhe funcionar quando, segundo suas palavras, foi adaptando o que aprendera para o que eu identifiquei como uma aproximação ao vipassana. descreveu que sua rotina de prática se resume a manter-se atento ao que ocorre na mente. a começar quando acorda pela manhã, mais ou menos como disse: toma consciência de que acordou, toma consciência do corpo, dos sentidos, dos pensamentos. mantem-se atento durante o dia, ao perceber alguma alteração emocional, analisa, questiona, investiga, lembra de que respira e abre espaço entre si e o que acontece. ao deitar-se para dormir, mantem o foco até adormecer.
e assim, tornando-se um observador de si mesmo, está a cerca de um ano sem tomar medicamento.
sob controle.
e era tarja preta retinta.
foi um tempinho de bate-papo e meu primeiro contato pessoal com alguém, fora do círculo religioso, que ralatou benefícios advindos da meditação, e de uma forma de meditação bem próxima daquela ensinada pelo Buddha.
que bom.

***

estamos todos enlouquecendo ou apenas tomando consciência do quanto somos loucos?
será que está na moda ser meio doido ou simplesmente não temos saída a não ser enxergar o fato?
cabem outras perguntas.
sem resposta.
tente agendar uma consulta com um psicoalgumacoisa, só por curiosidade, acho que vai ser difícil um horário vago.



Speech by ReadSpeaker