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Buscando...?

terça-feira, 27 de março de 2012

nãoeu.exe

...pensemos que é como se baixássemos o nãoeu.exe e o deixássemos ali no desktop, na área de trabalho, sem executar. 
temos o programa, podemos lê-lo quando preciso, podemos falar sobre suas vantagens e aplicações com nossos amigos, o aplicativo realmente parece bom, não há o que apontar de ruim sobre ele, é só estrela, mas ainda não o executamos. 
não conseguimos executar porque há inúmeras incompatibilidades que precisamos resolver. e é chato, cansativo, até dolorido resolvê-las. 
precisamos fazer muitos ajustes, como no eumeamo.exe. temos que excluir alguns como o euquesei.exe, o eusoumaiseu.exe, o problemameu.exe, eutenhosemprerazão.exe e vários outros dos quais somos quase dependentes, sem os quais praticamente não conseguimos viver! o euexisto.exe, por exemplo! como ficar sem ele!? e é justamente o mais incompatível de todos!! 
mas temos lá o desktop ostentando o programa. 
chique. 
e euentendo.exe parece até rodar melhor...



terça-feira, 20 de março de 2012

sistema imunológico

"Bastou a um príncipe indiano ver um velho, um inválido e um morto para compreender tudo; nós que também os vemos não compreendemos nada, pois nada muda em nossa vida. Não podemos renunciar a coisa alguma; no entanto as evidências da vaidade estão ao nosso alcance. Doentes de esperança, esperamos sempre; e a vida não é mais do que a esperança hipostasiada."

diz emil cioran no ensaio imunidade contra a renúncia do livro breviário de decomposição, editora rocco.

em um diálogo onde surgiu o assunto nibbana, conversamos que este está além de toda comparação, compreensão, conceituação.
parece correto.
mas penso que é preciso ter o cuidado de observar que aceitar esta noção de o nibbana ser assim tão indizível de uma forma muito empolgada pode ser mais uma estratégia do nosso sistema imunológico anti-renúncia.
porquê nos falta, em princípio, um parâmetro para comparar, passamos, sutilmente, a relacionar a alegria da prática buddhista àquilo que unicamente conhecemos como alegria, que são as sensações próprias do nosso modo de existir: basicamente a satisfação de um desejo. é natural que comecemos a tentar, por mais que nos informem do contrário, encaixar o nibbana naquilo que é o problema a ser sanado por sua realização, e passamos a reforçar nosso natural instinto de afirmação da única forma de existência que conhecemos: aquela baseada no eu existo.
uma vez que do nibbana não se possa dizer que é existência nem não-existência, para qual lado nossos imuno-soldadinhos vão sorrateiramente pender?
as palavras entram pelos ouvidos e olhos e saem da boca mas no meio deste trajeto, entre a entrada e a saída, são contaminadas pelos anticorpos anti-renúncia.
há sempre uma reticência, há sempre uma tentativa de enxergar na vida, condicionada como ela é e, sendo condicionada, uma causa de insatisfação e decepção segundo o Buddha, um valor, um algo que nos justifique manter nosso ponto de vista inato de que não é dukkha. ou, se é, dukkha não é tão ruim assim, sussurramos para nós mesmos.
renúncia, em termos buddhistas, não é uma coisa fácil.
não é, certamente não é, uma coisa simples experimentar o sofrimento que existe na satisfação da fome ou que a verdadeira paz é fruto de não ter mais fome. abrir mão da fome, de taṇhā, não é coisa simples, talvez trabalho para uma vida ou mais, mas de forma alguma ajuda se permitir debater com aquilo que o Buddha disse tão claramente e que uma observação e contemplação sinceras, mesmo que a mente ainda seja desprovida de elevadas aquisições meditativas, é capaz de nos mostrar, nas minhas palavras: a vida é a manifestação de um problema que só o nibbana pode resolver.
existe alguma tristeza nesta última afirmação? 
a resposta mais precisa é a vida do próprio Buddha. 
após seu despertar, viveu por muitos anos em alegria e energicamente ensinando só isso, a insatisfação e seu fim. 
meu esforço como Seu seguidor não é outro além do de descobrir como ser verdadeiramente feliz enquanto resultante partícipe deste turbilhão de enganos. 
mas sem tentar mudar Suas palavras. sem sonhar com outra vida. sem me revoltar contra o óbvio.
sem piorar as coisas. 

sexta-feira, 9 de março de 2012

meu mantra

somos todos uns pobres diabos.
adoro esta frase.
muito por tê-la lido do saramago. mais por ecoar o que tenho apreendido do Buddhadhamma. ela me é como um mantra.
o girar da vida a minha volta e dentro de mim é quase sempre no sentido oposto ao Dhamma do Buddha. um sinal deste giro contrário é a forma como nos vamos apegando aos saberes que acumulamos. cada novo saber é um tijolo, uma pá de concreto na estátua do ego. "Eu sei isso agora!" comemoramos, e está posto mais um peso sobre esta carroça de rodas quadradas que puxamos para todo lado.
sempre que me pego carregando a minha eu recito: somos todos uns pobres diabos. 
não sei muita coisa que efetivamente me alivie o peso. e não quero mais peso sobre a garupa. aquilo que vou descobrindo, que seja mais um retirar de ignorância do que um acrescentar de saber.
é difícil reconhecer que sou filho de avijja. mas a única forma de sair de baixo das enormes asas de mamãe é aceitando-a e compreendendo-a.
somos todos uns pobres diabos.
o que efetivamente sabemos que nos tire o amargo da boca quando comemos muito chocolate? 
qual o conhecimento que nos tranquiliza quando na insônia nos vem a lembrança de nosso destino certo: uma doença horrível, uma perda, a tumba...? 
o que eu sei que não possa ser dito ou pensado ou conceituado mas apenas organicamente sentido como paz no corpo e mente?
quanta tralha eu ainda preciso tirar da carroça antes de efetivamente abandonar a própria com suas rodas quadradas?

Speech by ReadSpeaker