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sexta-feira, 20 de abril de 2012

cá entre nós

cá entre nós, melhor que o meu chefe não passe por aqui, mas tenho estado mais sensível ao trabalho. quer dizer, não trabalho mais nem menos do que sempre, mas o tempo que vendo tem me feito mais falta, tenho sentido mais a sua falta... certamente que isso passa, como tudo mais, mas por enquanto, pobre de mim... ou sorte a minha, pois como bem diz a música: nem podemos reclamar...
o fato é que para um não-monge e buddhista, a alternativa é sempre procurar o Dhamma por todo lado, sem desperdício de oportunidade. e o esforço compensa o tempo vendido.
dia desses tive lá uma palestra sobre resiliência, a qualidade de absorver os impactos e pressões da vida e conseguir voltar a forma normal sem marcas. a palestrante era boa, uma psicóloga que transmitiu com segurança o assunto. 
e eu lá na platéia atento àquilo tudo. e comparando tudo ao Buddhadhamma.
basicamente, o que se ensina neste tipo de palestra é a superação. é estar preparado para os fracassos na nossa busca pela felicidade porque, eles sempre dizem, coisas ruins acontecem né, gente? e nesse ponto começa o Dhamma a brilhar aos meus olhos. coisas ruins acontecem, é claro, mas quem diz o porquê, para mim, pelo menos, é só o Buddha.
e a explicação para o brilho do Dhamma aos meus olhos me parece ser a seguinte: temos a necessidade de tratar o ruim, o fracasso, a perda, o sofrimento como elementos estranhos à vida. por mais que repitamos e repitam para nós, como foi o caso, que precisamos estar preparados né gente, a dor é sempre algo fora do sistema, algo que ocorre, infelizmente ocorre, como se tivesse sido inserida na nossa vida como uma punição ou instrumento pedagógico mas que não fazia parte do plano original. mas o Buddha me vem, no meio da palestra e me alerta, isso não é bem assim, o infortúnio não só faz parte, ele é a própria natureza desse drama no qual você surge, meu filho. 
e a coisa clareia.
e eu lembro porque tenho tanta aversão à budismoterapia. mas budismoterapia não é um bom termo, parece que eu tenho algo contra terapia, o que é absolutamente oposto ao que penso. na verdade, como não tive mérito suficiente para viver pegado no manto de um ajahn chah, de um buddhadasa ou de um ñanananda, tive que quebrar o galho com uma boa terapeuta mesmo. 
junguiana. 
então, ao invés de budismoterapia eu acho melhor usar 'tradição smurf de budismo'. uma tradição imensa que tem influência tão grande que é possível perceber sinais dela em muitos praticantes de várias outras. sua principal característica é aquilo que partilha, guardadas as devidas proporções, a partilha se dá nos termos gerais, com a visão mais preciosa para nós e palestrada para mim naquele dia: os problemas são coisas que ocorrem, mas a vida não tem nada com isso. a vida é bela, perfeita, existir é uma experiência inigualável, você pode superar a dor e viver plenamente todo o seu potencial, seu ser iluminado interior... e por aí adentro. 
para mim, nada mais distinto do que o Buddha ensina. 
e o que eu aprendo do Buddha, então?
aprendo que a vida é o que é. e o que a vida é, nós não vemos. e por que não vemos? um importante motivo é justamente porque, quando pensamos no assunto, acreditamos muito intensamente que devemos nos preparar para o fenômeno errado: o infortúnio. mas aquilo para o que precisamos nos preparar é para o sucesso. este é o grande ocultador da verdade da vida. a alegria, o alívio, a cura, o prazer que tem o poder de nos iludir e nos manter no ciclo que o Buddha define como samsara. preparar-nos para o sofrimento seria algo quase supérfluo se não nos deixássemos enganar tão completamente pelo prazer. se aproveitássemos as alegrias que temos para ver a natureza condicionada e capenga do mundo, e por mundo eu falo do mundo que o Buddha fala: tudo que nos entra pelos sentidos. compreenderíamos a coisa toda da forma como entendo o Buddha me dizer. acabaria esse negócio de que os palestrantes motivacionais tanto gostam do tal do meio copo vazio ou cheio: é só um copo com água, vê o que dá para fazer com ele e para de elucubrar feito bobo. quereríamos mesmo é o nibbana
pois é, percebo que é preciso falar no nibbana para que o negócio faça sentido e não me venham chamar de pessimista, chato e agourento. sem falar em nibbana, fica tudo incompleto. a tradição smurf fica sorrindo para o vazio e a palestra acaba sendo um trabalho bem feito. e só.
daria para ser diferente? dificilmente, que eu seja realista. quem está preparado para ouvir este tipo de coisa? que a vida é capenga mesmo, que o leite vai azedar e que o caminhão de estrume vai chegar enquanto você estiver na festa simplesmente porque é de estrume que a festa é feita. não, não dá.
talvez este seja, em verdade, um ensinamento para ser mantido em segredo. se você chegou até aqui e concorda comigo vamos, na medida do possível, manter isso cá entre nós.

Um comentário:

Alfredo disse...

É a velha história, misturar nibbana com a visão comum, é o mesmo de colocar sal no café e não entender o gosto, não tem sentido. Acima do sotapana, os sentidos ja não mandam no ego, as comparações egóicas somem, a impermanencia brilha e temos o abandono tão forçado que acaba, mas por levar ao nibbana. Abaixo do sotapana, boa sorte e estudos

abçs

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