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Buscando...?

domingo, 30 de setembro de 2012

macacada

há pouco conversava com um amigo simpatizante do buddhismo. leitor de muitas coisas, amante do saber, um reflexivo. dizia-me que tenta meditar, mas não consegue. repliquei que se tenta, de certa forma já medita. dizia-me que há dificuldade em desapegar-se, há a vida, há os apetites, há os amores, os desejos e as famílias. repliquei que há necessidades, se não todas saudáveis do ponto de vista de um Desperto, ao menos há possibilidades de se manter um equilibrado controle da doença que é o samsara. e há obsessões. há que se satisfazer necessidades de forma equilibrada que estas tendem a diminuir serenamente. mas se cria-se e nutre-se e cuida-se de obsessões, estas aumentam monstruosamente. dizia-me como o buddhismo acerta sobre as coisas. repliquei que é mesmo...
dizia-me que precisava aquietar o macaco louco. repliquei que se o macaco percebe que estamos atrás, aí que não pegamos ele. é preciso espreitar, meio de longe, meio como quem não está por ali. de rabo de olho, vigiar o bicho. decorar seus movimentos, gravar seus caminhos, deixar que se acostume com nossa presença. sejamos amigos, sejamos bonzinhos. até que o macaco venha descansar em  nosso colo.
dizia-me o amigo daqueles que se conhece há mais de vinte anos, com quem se estudava, com quem se acertava e errava, com quem se ouvia rock em silêncio. daqueles que caminham até longe. daqueles de muito antes das redes que emaranham pessoas. daqueles que sabem quem fomos. que leram nossos livros. amigos que ainda gostam de se ouvir.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

quem procura, não acha

procura-se por aquele que dormiu ontem e acordou hoje, que estava aqui e foi para ali, que quis e conseguiu, que começou e terminou. usa-se de todos os recursos para localizá-lo; pensa-se assim, contampla-se de outro modo, observa-se deste ponto e daquele, pondera-se, reflete-se, aquieta-se ao extremo, espreita-se... 
e nada.
aquele, sempre tão sólido, agora é vaporoso. incerto, tremula e some diante das vistas. mera visão. 
um nada.
mas com este mesmo nada, então, algo se confronta: é isto que ocorre. 
ocorre este toque.
ocorre este pensamento.
ocorre este som.
ocorre este ir e este vir.
e esta dor.
deste confronto uma alternativa apenas: havendo isto, aquilo surge; isto cessando, aquilo cessa.
depende. 
só dependência.
ninguém imune ao ocorrido. ninguém seguro a observar o desenrolar dos atos. 
ninguém vive. 
nenhuma testemunha.
e é esta ausência que revela o vão. 
esta ausência é que apaga a graça. 
aos poucos, aos poucos, a constatação de não haver ninguém, vai gerando apreensão diante da possibilidade do ocorrer este toque, aquela visão, outro som, um ir e vir, mais uma dor, prazer, ilusão. pois nada sobra, nada fica, nada resta, não há. só ocorre e acaba. morte.
sem espectador, não há espetáculo.
só há espetáculo.
nenhum espectador.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

dual

a vida é feita de experiências boas e ruins.
isto é uma dualidade.
a vida é experiências que começam boas e terminam ruins ou começam ruins e terminam piores.
isto é começar a compreender a não dualidade.
dualidade é resultado da conceituação, da concepção de entidades, coisas,  saṅkhāras.
não ficamos na experiência sensorial até o seu fim. nos primeiros sinais de desconforto, mudamos para outra coisa e aquilo que surgia como bom fica sendo "bom". fica saṅkhārizado como bom. se ficássemos até o fim, veríamos sua mudança e saberíamos que as coisas são surgimento, aparência e cessação
do contato entre sentido e objeto surge o saṅkhāra . deste a proliferação de conceitos duais: isto, aquilo; bom, ruim; prazer, dor; felicidade, sofrimento; tudo, nada.
este o fundamento do mundo. este o motor da existência.

Speech by ReadSpeaker