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domingo, 6 de janeiro de 2013

navegar é preciso

é muito difícil falar sobre sofrimento, sobre dukkha. para a maioria das pessoas, quando você fala em sofrimento você logo é interpretado como alguém que tem algum encosto, ou é deprimido, ou é infeliz, ou é rancoroso, ou precisa se tratar de alguma forma, ou é só chato mesmo. uma chatice mórbida.
mas dukkha, o sofrimento, é cinquenta por cento do que o Buddha afirmou ter ensinado sobre. bom, parece que meio Buddha tinha algum tipo de problema. e grave.
mas não é isto que pensam do Buddha, claro. pelo menos não nós, os buddhistas.
por que não? porque o ensino do Buddha não é uma exaltação do sofrimento, Ele não proclamou a existência absoluta da dor, Ele não queria ser um chato. ao contrário disso, Seu ensino é de libertação, é de cessação de todo tormento, é de consecução da paz plena e completa, por mais que muitos duvidem. e suspeito que não é só não-buddhistas que duvidem disso...
o sofrimento, ou pelo menos aquilo que assim entendemos como, é algo bastante óbvio, certo? quem não sabe que o sofrimento existe? até minhoca sofre. mas o Buddha dedicou metade do seu ensinamento só a este fato óbvio e conhecido até pelas minhocas. estranho isso? não para  muitos, aparentemente. 
muitos não pensam nisso, muitos não pensam em sofrimento, é chato, é mórbido, é coisa de deprimido.
o bom, o ótimo é falar de libertação. de preferência dispensando a outra metade do ensinamento, aquela da qual, afinal de contas, até as minhocas sabem.
o Buddha desperdiçou metade do seu tempo, ao que parece. esta é a conclusão inevitável a que chegamos.
eu não. não é concebível para mim que o Buddha tenha dedicado metade do seu tempo ao óbvio.
e eis a grande sabedoria e poder inigualáveis do Buddha: ele percebeu que o grande trunfo do sofrimento é o fato de as pessoas usarem de todo tipo de estratégia, e são inúmeras e de ótima qualidade, para evitar pensar nisso.
como o grande trunfo do diabo: fazer com que não creiam nele.
por isso o Buddha dispendeu seu sacratíssimo tempo a ensinar sobre o sofrimento. analisá-lo, expô-lo, dissecá-lo em minúcia até revelar sua verdadeira dimensão e abrangência que vai muito além da compreensão das minhocas. e é disso que surgiu Sua completa libertação, do mergulho naquilo sobre o que o resto do mundo navegava. e ainda navega.
mas chega.
não falemos mais disso.
disse o grante poeta: navegar é preciso, viver não é preciso.
exato. exatíssimo.
viver é mergulhar, é cumprir a tarefa, e ver-se impermanente, insatisfatório, vazio, é escrutinar a dor até ser-se a dor, é olhar nos olhos de mara e sorrir.
mas quem precisa disso quando se pode ser feliz como o são as minhocas?

2 comentários:

Unknown disse...

Caríssimo Jorge,
Não se apiede e nem proclame que você seja aquele que retrata seu primeiro parágrafo. Que tal pensar, que você superou o que a maioria de nós, budistas, ainda não superou. Que tal pensar que os leitores e participantes, de diálogos no Facebook, acolhem centenas de personalidade, em vários estágios de conhecimento da Doutrina de Buda.
Eu não lembro o Sutta, não costuma guardar (erro meu), mas sim o conteúdo, onde Buda falando com seus discípulos na floresta, pega um punhado de folhas no chão, e pergunta: “Meus discípulos onde vocês acham que tem mais folhas, em minha mão ou em toda a floresta”? Ele perguntava sobre o ultimo ensinamento que havia passado para os ouvintes, se não me equivoco era sobre as quatro Nobres Verdades, (o quanto de folhas ele tinha na mão) contra todo o conhecimento que ele tinha realizado com o seu Despertar. (as folhas que tinham na floresta).
Dukkha vai ser compreendido muito melhor com o aprofundamento de nosso conhecimento e com nossa pratica, exercida no nosso dia a dia. Você com certeza lembra que tivemos algumas trocas de opiniões sobre esse mesmo texto há muito tempo atrás. Hoje, eu já mudei com alguma ajuda sua, o que te agradeço, e com a continuidade de dedicação, lendo muito, praticando, não como eu gostaria, e participando dos diálogos via internet.
Não é melhor ter nossa compreensão e isso acarretar um atraso no desenvolvimento daqueles que ainda precisam crescer de acordo com seus estudos?
Eu me lembro de um texto do Ajahn Chad, onde ele cita, que nós não devemos nos preocupar, quando estivermos ouvindo sobre o Dhamma, se não conseguirmos assimilar todo o conteúdo, ele será guardado na proporção que sua mente estiver preparada para tal.

Jorge disse...

Celso, meu amigo. Grato pela tua paciência e por teu sábio conselho e comentário. Saiba que deste último embate aprendi algo novo. Minha cabeça é dura mas quebra, felizmente.
:D :D :D

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