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Buscando...?

quinta-feira, 31 de julho de 2014

hollow and dry

Como ficarei sem o eu? 
Se você é buddhista, já ouviu ou fez esta pergunta. Muito provavelmente ambos.
Ajahn Chah diz nalgum texto por aí que se você passa por uma rua e alguém o xinga dia após dia, você pode começar a pensar em tomar alguma atitude. Mas aí ouve que aquela pessoa é maluca e, então, relaxa, talvez até com um sorriso.
O buddhismo, cada vez mais me parece, é simples. No início é complicado, até porque a gente quer que seja. É mais bonito. Para discípulos e mestres, uma coisa rebuscada, complexa, difícil... Mas aí, a gente vai lendo as coisas dos suttas antigos e o Buddha sempre trazendo o assunto para o palpável mundo real e ordinário, usando imagens de açougueiros, carpinteiros, fogo, pedra... tudo muito simples, direto e claro. Começamos a desconfiar de quem se deleita no complexo. Discípulos e, principalmente, mestres.
Em 'Notes On Meditation' Ven. Ninoslav Ñāṇamoli diz o seguinte sobre um resultado da prática de ānāpānasati: 

Este tipo de atenção, quando desenvolvido, não deixa nada de fora, e se vai de forma simples, mas constante, tornando mais consciente da natureza da ação, em geral, enquanto que a ação mesma está realmente presente. Em última análise, é claro, isso leva à total transparência deste "eu" nesta experiência da respiração como um todo, e sua natureza totalmente redundante que vem sendo gratuitamente assumida.  Esta natureza, se atentamente perseguida na medida necessária, pode eventualmente ser completamente entendida e o gratuito "eu" destruído. Isso, no entanto, não deve ser tomado no sentido de que o fenômeno do "eu" irá desaparecer como se nunca tivesse existido, mas no sentido de que esse "eu" deixará de ser "mim" e "meu". Ele permanecerá apenas ali, hollow and dry.

Nem traduzi hollow and dry porque está perfeito. Busque a tradução das palavras para você ver...
Mas parece que é assim. Vai ficar ali, como a coisa oca que é, seca.
Simples.
Buddhismo é isso. É mergulhar nesta bolota de deterioração com coragem imensa, para voltar, como sempre, ao Ajahn Chah. 
Bolota de deterioração é uma das minhaS definições preferidas para o acontecimento que insiste em ser eu.

terça-feira, 29 de julho de 2014

aquarela

No Anuruddha Sutta do Angutara Nikaya, o Buddha acrescenta um oitavo pensamento aos sete virtuosos que surgiram na mente meditativa do bikkhu Anuruddha. 
Os sete: 
Este Dhamma é para aquele que é modesto, não para aquele que quer o auto-engrandecimento. Este Dhamma é para aquele que está satisfeito, não para aquele que está insatisfeito. Este Dhamma é para aquele que é isolado, não para aquele que é enredado. Este Dhamma é para aquele cuja energia está estimulada, não para aquele que é preguiçoso. Este Dhamma é para aquele cuja atenção plena está estabelecida, não para aquele cuja atenção plena é confusa. Este Dhamma é para aquele cuja mente está concentrada, não para aquele cuja mente é desconcentrada. Este Dhamma é para aquele dotado de sabedoria, não para aquele cuja sabedoria é fraca.
O oitavo: 
Este Dhamma é para aquele que desfruta da não-proliferação [conceitual], que se delicia com a não-proliferação, não para aquele que desfruta e se delicia com a proliferação.
Proliferação conceitual é uma tradução para o termo pali, papañca. Termo chave no cânone antigo, há um livro maravilhoso, como acho que todos dele são, do Venerável Katukurunde Ñanananda sobre papañca e papañca-sañña-sankha.

Proliferação é, sendo simples e pragmático, dar corda ao pensamento, viajar. Viajar no pensamento é coisa às vezes bem vista na nossa mentalidade comum de seres amantes do viver (numa folha qualquer, eu desenho um sol amarelo...)
...e o futuro é uma astro nave...
Na disciplina do Buddha, o futuro não existe assim como o passado não mais. Tudo o que importa é o movediço ponto em que estamos entre dois extremos de escuridão.
Deleitar-se com o pensamento que levado pela ignorância segue a tatear por estes extremos escuros, compondo realidades a partir do que é verdadeiramente inexistente é um engodo.
Uma coisa que leva à outra, à outra e à outra pode levar a muita coisa interessante, mas não leva a nada.
O que temos é um coração que bate, um pulmão que se enche e esvazia, sentidos que nascem a cada contato e que, segundo o Buddha, é nossa mais valiosa fonte de aprendizado, nosso campo de pesquisa que, se conduzida conforme Ele ensinou, trará resultado não reproduzível nas nossas mais belas aquarelas...


terça-feira, 15 de julho de 2014

apego

por que sofremos se nos apegamos às coisas?
porque é impossível apegarmo-nos às coisas.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

fundamento

Dia desses me perguntaram: "o que você diz quando te perguntam quais são os fundamentos do theravada?" Eu respondi: "ninguém me pergunta isso!" 
Verdade. O mais profundo de que me lembro foi o "no que o buddhismo acredita?" 
Muito melhor a pergunta sobre o theravada. Porque mais difícil de responder. Por isso mesmo vou escrever o que eu responderia.
Há, penso, algumas respostas.
Aqui cabe um trecho do livro meanings que diz: ...a religião buddhismo, um fenômeno social e histórico relacionado, mas distinto dos ensinamentos do Buddha, surgiu e cresceu, transformando-se e proliferando-se (pág. 10 da edição digital, 2º parágrafo).
Citado isso, me obrigo a começar por esclarecer o que entendo ser o theravada, eu diria que é o grupo buddhista que toma o cânone pali como autoridade final. Significando que qualquer que seja o buddhismo ensinado, tal ensinamento precisa ser rastreado até o cânone pali, em letra e/ou em significado para ser aceito como buddhismo por este grupo. Ponto.
E fiel a esse ponto, eu, que me considero parte desse grupo, seguiria em diante dizendo que o fundamento deste theravada que eu concebo são as palavras do Buddha registradas nos suttas pali e reproduzidas ao aqui ao lado no blog; uma frase que é o que alimenta minha prática pessoal e deve me levar até o nibbāna se eu, um dia, a realizar completamente - disse o Buddha, mais ou menos assim: eu ensino só duas coisas, dukkha e o fim de dukkha. No lugar de dukkha, cabe tudo que não queiramos, assim como muito que, por ignorância, queremos. Para simplificar, traduzimos dukkha por sofrimento. Então, o Buddha ensinou o sofrimento e seu fim.
Aí cabe outra frase do livro citado acima: a fim de conhecer o sofrimento não é suficiente apenas sofrer (3ºparágrafo do primeiro ensaio, Feelings Are Suffering).
Não, o sofrimento não é o que pensamos. Nem conhecê-lo é.
Em Clearing The Path, escreve Ñāṇavīra TheraO leitor,(leitor ideal daquela obra, que comenta os suttas pali) presume-se subjetivamente envolvido num problema angustiante, o problema da sua existência, que é também o problema do seu sofrimento (prefácio, 1º parágrafo).
Voltando, só estas duas coisas é uma resposta possível. Duas coisas que pensamos conhecer bem, principalmente quando não pensamos sobre elas. 
Talvez, pudesse até elaborar um pouco mais e dizer que o theravada se fundamenta em nos despertar a atenção àqueles momentos que provocam a busca ideal de que fala Ñāavīra Thera. 
Há momentos em que nalgum lugar fagulha a impressão de que dukkha, a primeira coisa ensinada pelo Buddha, não é só a dor de barriga, mas também a feijoada; dukkha não é só o divórcio, mas também o apaixonar-se; dukkha é a morte, mas também o nascimento. 
E aí mesmo a segunda coisa: esta fagulha, se alimentada corretamente até tornar-se chama de sabedoria realizada, consome-se e apaga, sem deixar vestígio.
Fim da resposta e, eu sendo bem sucedido, fundamento para muitas perguntas mais.

Speech by ReadSpeaker