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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

de humano para humano

para a pergunta "por que eu sou buddhista?" há algumas respostas.
mas a minha preferida é: o buddhismo é ensinamento de humano para humano. como ilustra este belo trecho do ensaio ideal solitude, do venerável ñāānanda.

sem dúvida, esta solidão física era muitas vezes apoiada pelo Buddha como um pré-requisito essencial para o desapego. assim, no final de um dos pronunciamentos mais contundentes a favor deste tipo de solidão, ele confessa ao seu ajudante, o venerável nāgita, com notável franqueza, que ficava bastante confortável, mesmo ao atender aos chamados da natureza, quando não via ninguém em frente ou atrás de si, enquanto viajava sozinho (aguttara nikāya III 344).

no doubt, this physical solitude is often upheld by the Buddha as an essential pre-requisite for detachment. thus at the end of one of the most forceful perorations in favor of this type of solitude, he confesses to his attendant, the venerable nāgita, with remarkable candor, that he is quite at ease even in answering calls of nature, when he sees none in front of or behind him while journeying all alone.

presente

no presente estou só
entre tudo passado e futuro
no presente fico só

só com a deterioração incessante de tudo que surge

há o meu eu que insiste em me acompanhar mas se irrita com as minhas perguntas sobre, afinal, qual é a sua...

se aquieta, finge que não está ali
e me sinto só por algum tempo

mas

que possa eu carregar esta solidão pelo tumulto do dia
que possa eu estar só na multidão
entre tudo passado e futuro
entre desejos e anseios
entre eu e os outros
que eu possa me lembrar do vazio de estar presente

morrendo

CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS

um dia, descobrimos que vamos morrer. aí a vida continua, na maior parte das vezes.
há os que morrem antes de nós e por alguns deles sofremos, lamentamos, choramos. e aí a vida continua.
porque é assim que o mundo segue. é para a vida continuar.
desde aquela nossa descoberta o que importa é fazer o possível para não pensar nela antes e depois dos funerais aos quais eventualmente vamos comparecer.
no nosso mundo interior a morte ocupa um lugar exclusivo, o da certeza, e outro que divide com a doença, o envelhecimento, a dor, a perda... o lugar daquelas coisas das quais não é saudável lembrar porque vão contra a corrente do mundo. contra a corrente do mundo que compomos.
temos shoppings, séries, filmes, livros, academias, festas, competições, trabalho, conquistas, férias, religiões e muita vida pela frente. um dia vamos morrer, basta.
como é se a morte fizer parte da nossa vida é do que trata este livro. como é pensar e refletir sobre a morte antes, durante e depois dos funerais. como é viver a morte a cada segundo.
a morte, no buddhismo, tem seu papel reconhecido e aproveitado no sentido de prover uma vida mais sábia, autêntica, real, equilibrada e feliz. uma vez que é um rumo contrário ao que nos é apresentado naturalmente, é um livro que exige certa coragem. e também porque é escrito numa linguagem direta, clara e franca.
e simples.
não é um livro de novas ideias, nem de filosofadas profundas. é meramente um livro que fala de algo que está acontecendo bem diante de nós a cada pensamento, a cada olhar, a cada respiração, a cada batida do coração.
é um livro sobre a nossa morte.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

é isso...

a cada dia que passa mais certo isso me parece:

"Só de um ponto de vista vertical, mirando diretamente para baixo no abismo de sua própria existência pessoal, um homem é capaz de apreender a perigosa insegurança de sua situação; e apenas um homem que apreende isso está preparado para ouvir o ensinamento do Buddha."

Ñāṇavīra Thera

Only in a vertical view, straight down into the abyss of his own personal existence, is a man capable of apprehending the perilous insecurity of his situation; and only a man who does apprehend this is prepared to listen to the Buddha’s Teaching.

se não for assim, é como aquelas chupetas com um paninho amarrado...




apague a lanterna, cuide do seu barril

deve ter sido maravilhoso conhecer o Buddha. 
não diga! sério!? você pode ironizar... mas deixa eu continuar...
maravilhoso não só por ele ter sido o Buddha. digamos que não fosse, penso só numa característica que acho fazer valer esta minha afirmação: o Buddha era o que ensinava.
estamos nós de tal forma (talvez desde quando dormíamos e pulávamos em galhos) submersos num lamaçal de hipocrisia que, só por isso, o Buddha descrito já é um tesouro.
não vamos falar de políticos, nem da mídia, que aí é lama além da conta e podre, a gente desiste, ou quase (nem falemos de grupos de chimpanzés). ficando no dia a dia (caso você não esteja cumprindo as ordens da política nem da mídia) quantas pessoas você conhece que são o que dizem? minimamente? quantas pessoas correspondem a uma boa impressão que causem num primeiro encontro? no sentido de caráter.
no trabalho, por exemplo, quantas pessoas admiráveis você conhece e, caso tenham algum sucesso, sabe que chegaram lá graças a terem praticado o discurso que pregam hoje? não sei quantas pessoas assim seriam necessárias para um mundo melhor, por mim, conhecer uma já me faria menos triste...
e dariam algum sentido à junho de 2013...
e isto se aplica a todo tipo de convívio humano.
em religião, por exemplo. esteja preparado, seja em qual credo você estiver, para decepções em série.
estou caminhando para vinte anos de envolvimento com o buddhismo, num interesse sempre crescente, numa certeza cada vez mais prazerosa, mas em grande parte por vir neste caminho, pelos últimos dez anos, com base naquilo que encontro, ou que na maior parte me é apontado, do dhamma considerado o mais próximo do Buddha, os suttas do cânone antigo. é lá que no último discurso Ele afirma que não haverá pessoa que O suceda e que cada um dos seus seguidores deve se tornar um refúgio para si mesmo. quer dizer, sua medida, enquanto praticante do Buddha Sasana deve ser sempre o "o que eu digo versus o que eu faço". e esteja preparado para as decepções com você mesmo, mas com a diferença de que com respeito a estas você sempre pode fazer alguma coisa e, principalmente, obter resultado.
deixe o diógenes.
apague a lanterna e cuide do seu barril.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

fecha parênteses

mais uma tradução devidamente revista.
e autorizada pelo autor.
aqui o original.
e aqui.



Existência Significa Controle


Por Bhikkhu Ninoslav Ñāamoli




Para que algo exista (bhava), a fim de que exista em um sentido completo e apropriado, tal coisa tem de estar presente, em primeiro lugar, na forma de uma experiência plena. Quando eu digo "presente", isto deve ser entendido no sentido de que só podemos "encontrar" as coisas se estas já estão lá, no mundo. (Cf. a afirmação de Sartre em O Ser E O Nada que cada coisa nos chega com o passado). O fato é que as coisas só podem ser encontradas quando já estão presentes e isso significa que - fundamentalmente falando - estão além do controle1, não se pode ser o seu criador. Assim, a experiência como um todo não pode ser controlada; o máximo que uma pessoa pode fazer é modificar um já determinado estado de coisas, em um nível mais específico.

Tome-se os cinco agregados como exemplo: a sua natureza é aparecer, desaparecer, e mudar enquanto aparente, de acordo com o que é. É somente por upādāna que esta característica é obscurecida2, e ao invés dela, em tal caso, o ego aparente torna-se o agente fundamental do processo ou, pelo menos, esta é a forma como ele aparece a um puthujjana. Aquele que não está livre de upādāna, e da certeza de um ego, confunde o fato de que os cinco agregados (ou, neste caso, os cinco agregados apegados) podem ser modificados ou afetados, uma vez que surjam, com a noção de que eles podem ser controlados. Esta noção de controle também suporta (ou nutre) a visão de que o 'eu' é seu criador, o que por sua vez alimenta aquela noção, e assim indefinidamente. É por isso que com o 'ego' surge a percepção de domínio sobre a própria experiência

Attā, "eu", é fundamentalmente uma noção de domínio sobre as coisas.

(Ñāavīra Thera, Notes on Dhamma, DHAMMA)

O ego, então, como um "mestre", aparece como algo diferente, algo além dos cinco agregados apegados. Além disso, o ego continua achando a prova de sua existência constantemente ao interferir e modificar (quando possível) os estados surgidos dos cinco agregados apegados. O ego encontra prazer em fazê-lo.

Por outro lado, se o ego visse que, a despeito de toda a prova, o seu domínio na verdade requer (ou diretamente depende) dos cinco agregados, a noção de controle cessaria3. Isso deixa claro que o "ego" não pode exercer qualquer controle fundamental sobre o seu aparecer, desaparecer e mudança enquanto aparente. É por esta razão que por contemplar isto pelo tempo suficiente é possível tornar-se um arahat:

Então, monges, naquele tempo, o Buddha Vipassī permaneceu contemplando o surgimento e a cessação dos cinco agregados apegados ... E conforme ele permaneceu contemplando o surgimento e a cessação dos cinco agregados apegados, em pouco tempo sua mente se libertou do grilhões, sem restar vestígio.

(Mahāpadāna Sutta, Dīgha-nikāya 14 / II, 35)

Notas:

1 Ainda que se possa controlá-los, primeiro eles têm que existir. Em outras palavras - por sua própria natureza o controle é visto como algo além do nosso controle.

2 De fato, não é só a característica que é obscurecida, os cinco agregados não são vistos na maioria das vezes.

3 Porque para um puthujjana não é suficiente ver isso uma apenas vez. É somente com a repetição deste insight (alcançado através do esforço), que a visão habitual de controle irá desaparecer, e ser substituída (aos poucos também) pelo ponto de vista de uma inerente falta de controle - a visão da impermanência. Quando se vê que a impermanência subjaz a todos os projetos do ego, o ego deixa de ser ego, pois sem exercer controle essa individualidade não pode subsistir. (Cf. Ñāavīra Thera, Notes on Dhamma, PARAMATTHA SACCA, parágrafo 6)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

parêntese

hoje, como ainda não havia ocorrido, publico uma tradução completa de um pequeno ensaio. pequeno e profundo. pode ser que outras traduções se sigam a esta, se assim for, serão sempre autorizadas e/ou revisadas pelo autor e/ou responsável pela publicação original. 
o original desta está aqui e no livro meanings.
boa leitura.

O sentir é sofrimento


por Bhikkhu Ninoslav Ñāamoli

 



Como alguém deve libertar-se do sofrimento?
O primeiro passo que se deve dar é aprender a não ansiar pela cessação do sofrimento. À primeira vista isso pode parecer simples, mas na verdade não é tão simples assim; pois não podemos presumir que uma pessoa comum, sem treinamento, saiba o que realmente o sofrimento é.
Para conhecer dukkha não é suficiente apenas sofrer. Para conhecer dukkha é preciso reconhecer, na presente experiência, o que é e o que não é necessário. O ponto é que, na experiência da dor, alguns aspectos são inevitáveis, enquanto outros, não. Em outras palavras - a "dolorosidade" da dor é sofrimento e não a dor em si.
Deixe-me voltar para a declaração do início de que não se deve ansiar pela cessação do sofrimento; por que isso é o essencial? A razão imediata do nosso sofrimento é, como o Buddha nos diz, o nosso anseio ou taha. É por causa de taha que nossa experiência da dor é dolorosa. Isto aplica-se aos outros dois tipos de sentir também. Assim, podemos dizer que é por causa do anseio que os sentimentos/sensações são dukkha. No primeiro tipo, no sentir desagradável, o anseio pela cessação deste sentir faz a pessoa sofrer: o sentir doloroso está presente ali, diretamente oposto ao seu anseio por que aquilo não exista, para que desapareça. Desta forma, uma discrepância é criada, uma discrepância que é nada mais que dukkha. No segundo tipo, no sentir agradável, o anseio por mais deste sentir se manifesta. Assim, o sentir agradável vigente aparece como desagradável quando a atenção se volta para o anseio por que aquele sentir aumente. A presente sensação de prazer se torna insuficiente, uma carência que precisa ser atendida. Mais uma vez a discrepância surge, e que se tenta superar pela persecução de inúmeras coisas do mundo que irão intensificar seu prazer ainda mais. Tem-se a esperança de que tal tentativa irá 'preencher a falta' interior mas, desnecessário dizer, isto é impossível, uma vez que a discrepância está, na verdade, sendo constantemente gerada pela presença de taha e não pelos vários objetos no mundo.
O pensar e o ansiar são a sensorialidade de um homem,
Não as várias coisas do mundo;
O pensar e o ansiar são a sensorialidade de um homem,
As várias coisas só estão lá, no mundo;
Mas o sábio se livra do anseio nele mesmo.
- Anguttara-nikāya.VI 63 / III, 411

Quando se trata do terceiro tipo, o sentir nem agradável nem desagradável (ou seja, neutro), o sofrimento é vivenciado como resultado de um anseio pelo sentir em si mesmo, visto que o sentir neutro não é reconhecido como tal:
O sentir neutro é agradável quando conhecido [como tal],
e desagradável quando não conhecido [como tal]
- Majjhima-nikāya. 44 / i, 303

Então, para resumir, a experiência que se tem da dor em si não é a razão para a sofrimento que se sente. É, antes, a presença do anseio na experiência do ser o porquê do sofrimento estar lá. Enquanto este continuar a ser o caso, ser-se-á uma "vítima" do próprio sentir, seja ele agradável, desagradável ou neutro.

Speech by ReadSpeaker