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terça-feira, 30 de junho de 2015

O Discípulo Laico*

Este é o discípulo do Buddha, vivendo em seu lar. Ele tem confiança no despertar do Buddha. Ele treina a si mesmo para purificar suas ações e sua fala. Ele cultiva a generosidade, aprende a ceder e a deixar ir. E esta é a sua prática: ele aproveita as oportunidades para ouvir o Dhamma - a palavra do Buddha - de monjas e monges despertos. Mas isso não é tudo. Ele sustenta a lembrança do Dhamma que ouviu. Ele tenta memorizá-lo, mantê-lo em sua mente. Porque ele sabe que, assim, vai refletir sobre ele, observar, investigar, compreender profundamente. Então, por tal prática, ele sabe, sendo esta uma lei natural, sua vida vai seguir o processo, inevitavelmente.
Lenta mas seguramente, toda a sua vida é tocada e transformada pela mágica que é o milagre do Dhamma: em seu trabalho ele é aplicado, trabalhador e diligente. Em suas finanças ele é generoso, evitando dívidas, consciente dos benefícios de poupar e nunca se esquecendo de avivar o espírito de sua família e amigos. Ele cuida bem de seus pais, a quem deve sua formação e orientação na vida, e instrui e apoia seus filhos e companheiros sempre buscando se associar com pessoas boas e nobres. Assim, sua vida mundana está num equilíbrio que lhe permite dedicar mais tempo e clareza à vida espiritual.
Pelo menos uma vez por semana, vestido de branco, símbolo da pureza, ele desfruta de um dia de silêncio e contemplação. Ele determina sua mente a aplicar-se neste nobre treinamento de corpo, fala e mente. Ele sabe, cada dia passado a seguir os passos dos Arahants será, na soma final de seus dias terrenos, mais valioso do que qualquer fortuna em sua conta bancária. Neste dia, ele lembra-se do Dhamma que aprendeu, pode também jejuar, mantendo-se leve e simples, refletindo sobre as palavras do Buddha. Ele pode contemplar as qualidades do Buddha, aquilo que caracteriza um Desperto, ele pode contemplar Dhamma e Sangha. Ele pode lembrar das qualidades dos Devas sabendo que sua vida, se purificada desta forma, irá conduzi-lo a tal estado mental e nenhum outro.
Começa todos os seus dias com as cinco contemplações saudáveis pela manhã. Todas as manhãs ele reafirma a sua confiança no mestre, o contemplativo Gotama, na sua explicação do Dhamma e no grupo de discípulos que seguem esse caminho com sinceridade. Todas as manhãs, ele reflete sobre as virtudes que está determinado a pôr em sua vida e reflete sobre como pode praticar generosidade naquele dia. Todos os dias, ele se exercita, para fortalecer sua lembrança dos ensinamentos do Buddha, recitando as palavras do Desperto de memória. Todos os dias pode-se encontrá-lo calmamente refletindo sobre o significado do Dhamma que ele aprendeu. Outros chamam de meditação, ele chama de sammā samādhi e bhāvanā, ou desenvolvimento, pois ele sabe que isto é como uma planta, precisa de atenção constante e manuseio cuidadoso para que cresça forte a dê frutos.
Ele sabe que da confiança vem serenidade, e da serenidade alegria. Tal alegria interior vai levá-lo mais do que frequentemente à permanência tranquila dos quatro jhānas. Ele sabe como utilizar a perfeita calma e equanimidade do quarto jhāna para lembrar suas vidas passadas, sim, ele pode dominar habilidades como essa, mas acima de tudo, ele não conhece maior alegria do que refletir sobre a impermanência dos seis sentidos, observando seu borbulhante surgir e cessar conforme sua sabedoria cresce, não conhece maior alegria do que observar os cinco agregados surgindo e se dissolvendo, contemplando a origem dependente que conduz a um profundo insight e sabedoria purificadora.
Conforme seus dias periódicos de meditação (Uposatha) se desenvolvem em profundidade, guiado e alinhado pelas palavras do Buddha que ele preza como um antigo tesouro, sua habilidade em aprofundar seu despertar através da aplicação das meditações como descritas pelo Buddha torna-se formidável. Ele, vestindo branco, ainda vivendo entre esposa e filhos, mantém a sua mente firmemente empenhada na atenção plena ao corpo, ou às quatro satipatthanas, ou à meditação pela respiração, conducentes a profundos insight e sabedoria e aos frutos de entrar na correnteza, de só mais uma vez retornar e de não-retorno. Este ele sabe ser o caminho para Nibbāna conforme apontado pelo Desperto.

Com base nos seguintes suttas:
•                       Mahanama Sutta,   AN.8.25
•                       Vyagghapajja Sutta,   AN 8,54
•                       Singalovada Sutta,   DN 31
•                       Sakka Sutta,   AN 10,46
•                       Muluposatha Sutta,   AN 3,60
•                       Uposatha Sutta,   AN 8,41
•                       Nandamata Sutta,   UMA 7.6
•                       Cittasamyutta,   SN 41
•                       Gihi Sutta,   AN 5,179
•                       Anana Sutta,   AN 4,62
•                       Nakula Sutta,   AN 6,16
•                       Velama Sutta,   AN 9,20
•                       Brahma Sutta,   ITIV. 106
•                       Cinco reflexões diárias: Abhiṇha Paccavekkhitabbaṭhāna Suttaṃ,   AN 5.6.7   e   Aqui




*texto traduzido e publicado sob autorização do autor.
original aqui.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A Escola Buddhista Caetanovelosoyana*

O Buddha simplificava as coisas. 
Nos suttas antigos, quem sou eu para falar nos suttas antigos? Parênteses. Mas sou um releitor permanente dos eruditos que podem falar, então replico o que destes consigo apreender... 
Nos suttas antigos o Buddha utiliza comparações frequentes com elementos do cotidiano ordinário de seus ouvintes para transmitir seus insights.  São vários os símiles e parábolas com arcos, serras, fogo, pedra, pregos, árvores, barcos e etc. que o Buddha belamente constrói e utiliza de forma sempre iluminadora e desconcertante como forma de, com palavras, dar instruções para que sigamos rumo ao indizível. Aqui é um momento em que eu deveria colar trechos daqueles suttas para corroborar minha afirmação, mas eu não planejei escrever isso aqui e não sou muito de fazer anotações nas minhas leituras. Fica por sua conta buscar pelas provas. Há muito material disponível.
O Buddha não promete pouco. É o completo fim do sofrimento o que ele garante. Ainda assim, é sempre claro, limpo, simples nas suas falas. Para nos levar ao fim completo do sofrimento ele nos indica o que investigar: nosso próprio sofrimento, aqui, agora, nesse corpo. Não nos manda contemplar a beleza transcendental da vida. Se você é um feliz e satisfeito mas ainda assim quer praticar o buddhismo, eu acho, eu, veja bem, outro parêntese, eu acho que você vai precisar aguçar sua percepção para a dor que existe nessa sua felicidade...
Mas voltando ao simples, estas linhas proliferaram na minha cabeça e forçaram sua vinda para cá depois de umas leituras que fiz por estes dias. Primeiro aqui, este texto do professor Ricardo Sasaki e, nos dias seguintes, dois outros que não vou citar. Enquanto o primeiro me parece estar em linha com aquilo que penso, os outros dois desalinham completamente. Apesar de serem de mestres que respeito, eles complicam, e complicam muito, seguindo devotamente uma longa linhagem de complicadores do Buddha Sasana surgida pelos milênios de expansão dos ensinamentos. 
É quase como se pensassem assim: se eu falar o simples, e eles entenderem, como é que eu fico?
Pensassem inconscientemente, talvez, pelos milênios afora até hoje... Sei lá, entende?
O Buddha ensinou e se mandou. Quando morreu, disse que nosso mestre seria o que ele deixou ensinado, ponto. Percebe o link com o texto do Sasaki? Nossa relação com um mestre deve ser a de buscar entender, e entender o que é dito para por em prática, e não passar a vida agarrado em seu manto encantado com a profundidade ininteligível do que ele fala. E ao mestre cabe a disposição de falar o que se pode entender...
Ouviu, entendeu, praticou, realizou, parabéns. Gratidão e respeito eternos, caso esse negócio de eternidade exista.
Quem é de nibbāna, nibbāneia. Quem é bodhissatta, boddhissatteia.
No livro que estou traduzindo, biografia e ensinamentos do Venerável Paññāvaḍḍho, terminei agora um capítulo em que há o seguinte trecho: Quanto mais vocês puderem conhecer o Dhamma, mais vocês terão um professor interno para guiá-los. Vocês provavelmente tem um professor externo, o que é necessário; mas, em última instância, vocês devem substituir o professor externo pelo interno. Quando isso tiver sido feito, vocês não precisam mais estar com um professor. Vocês podem praticar sozinhos, então.
Ser capaz de estar sozinho pode ser um estágio distante para a maioria de nós, mas é o espírito da coisa que precisa ser compreendido...
Mas voltando ao simples, quando o Buddha simplificava as coisas, me parece claro ser essa a intenção, que as pessoas entendam e sigam o caminho do abandoneísmo, conforme o Venerável Kaṭukurunde Ñāṇananda maravilhosamente explica.
As coisas, os ensinamentos, são para uso e descarte. Quanto mais simples for, melhor. A gente vai por etapas, gradativamente, mirando o fim.
Isso nos leva ao símile da jangada elaborado pelo Buddha, mas deixa isso pra outro dia, talvez.

*Escola fundada por um amigo que gosta de complicar as coisas...

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Cultivador Da Sabedoria 2

Conforme dito aqui, mais trechos:

"Quer seus alunos fossem novatos em meditação ou monges envolvidos em uma vida inteira de prática espiritual, Ajaan Pañña salientava que o desenvolvimento da concentração e sabedoria meditativa requeria a observância de certos princípios universais. Em essência, este processo envolvia uma progressão do externo para o interno; do grosseiro ao refinado; da ênfase no corpo à ênfase na mente; e de um estado de atividade a um estado de quietude. Para ser bem sucedida, a meditação deve ser uma disciplina que envolva toda a pessoa e todas as facetas da sua vida diária. É um caminho de prática que engloba tanto causa como efeito: a fundação apropriada levando a resultados apropriados. Praticantes não podem simplesmente optar por cumprir alguns aspectos do caminho e negligenciar outros; caso contrário, todos os seus esforços acabarão por se revelar decepcionantes."

(...)

"Ajaan Pañña imprimia em seus alunos a noção de que a prática da sabedoria cobria uma gama muito ampla de fenômenos mentais. Por causa disso, eles tinham que procurar métodos criativos para lidar com as inúmeras possibilidades que podiam surgir no decurso das suas investigações. Eles não podiam esperar que os métodos adequados simplesmente aparecessem do nada para si. Os métodos corretos, os que fossem mais adequado às suas necessidades, poderiam ser bastante evasivos. Não era uma questão de simplesmente sentar e observar a consciência em seu ir e vir. Eles tinham que buscar seriamente pelo método correto, ou então nunca iriam encontrá-lo. Eles tinham que fazer uma escolha deliberada de que facetas da mente iriam observar, escolhendo os aspectos mais relevantes com base em seus insights sobre o Dhamma. Para que isso acontecesse, eles deveriam realmente aplicar diligência ao que estavam fazendo. A investigação devia ser algo importante para eles. Para serem verdadeiros cultivadores de sabedoria, eles deveriam dedicar o tempo e o esforço para desenvolverem adequadamente a prática da sabedoria. Se o fizessem, a mais elevada realização não estaria fora de seu alcance.
'Essa era a essência geral das palestras que Ajaan Pañña oferecia igualmente aos monges e praticantes laicos."

Speech by ReadSpeaker